“Uma coisa ótima de estar em Guadalajara há quatro dias é que não vejo jornais portugueses”
Graça Fonseca, ministra da Cultura, 25 de novembro
19 valores no Índice do Pulo do Lobo. Nem vê-los. A responsável pela pasta da Cultura acha “ótimo” não “ver” os jornais portugueses para fugir a uma pergunta acerca da manchete do Expresso sobre touradas sem sangue. Não há wi-fi no hotel? O telemóvel não funciona? José Sócrates ainda era primeiro-ministro, quando disse qualquer coisa do género, que tinha o sonho de um dia acordar e ver que o seu nome não estava nos jornais. Não é o melhor exemplo. Graça Fonseca devia ter percebido que a sua nova posição implica outras responsabilidades e que as palavras têm peso. Ter a tutela da comunicação social e achar uma maçada responder aos jornalistas - e melhor ainda não ler jornais - não é a atitude mais correta num mundo em que a liberdade de imprensa já não é uma garantia em várias democracias liberais. A ironia em política não serve a toda a gente e a maior parte das vezes corre mal. Se a sra. ministra se sente incomodada pelos jornais, habitue-se, porque os jornais servem para a incomodar. Depois de tantos anos resguardada em gabinetes e com uma exposição pública moderada, talvez não esteja habituada às implicações dos seus novos sapatos: evitar responder a uma pergunta exige arte política. “Não estava obviamente a criticar a comunicação social mas a responder a uma pergunta sobre touradas”, justificaria depois. Enganou-se: estava a não responder. António Costa, o mentor de Graça Fonseca, já teve os seus deslizes, como quando se recusou responder a uma jornalista que saiu “inopinadamente” detrás de um carro para lhe fazer perguntas. Cavaco Silva era mais sonso quando se fazia de tolo, como por exemplo daquela vez, em 1994, em que lhe perguntaram se tinha ouvido um discurso muito crítico do então Presidente Mário Soares no congresso Portugal que Futuro? e ele respondeu: “Olhe, eu não posso pronunciar-me, porque não conheço. Passei o dia todo, ontem, numa excursão familiar ao Pulo do Lobo, no Alentejo profundo, no Guadiana, próximo de Mértola, e incomunicável. (...) E sabe mesmo que eu tenho dado ordens ao meu partido para que todos ajudem o Dr. Mário Soares a terminar, com grande dignidade, o seu mandato, porque ele bem o merece”. Estas duas frases ficaram para a história. Mas, naquela época, Cavaco não tinha telemóvel com dados...
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