18 fevereiro 2015 7:00

A publicidade que tem dado que falar
18 fevereiro 2015 7:00
Ashley Graham é a mulher que nas últimas semanas tem dado que falar nas redes sociais (ok, a Uma Thurman também, mas já passou). Ashley tem 27 anos, usa um orgulhoso tamanho 40 e acaba de ser a primeira modelo plus size a figurar a icónica edição de bikinis da Sports Illustrated, lado a lado com Irina Shayk e Sara Sampaio.
Pelo menos é esta a notícia que tem corrido pela web, mas a verdade é que não se trata de uma opção editorial assumida: a famosa revista apenas publicou uma publicidade da Swimsuitsforall.com, parte da campanha da #CurvesinBikinis. Sim, até pode ser interpretado como um pequeno passo na questão da aceitação da imagem das mulheres que não têm os supostamente perfeitos 86-60-86. Mas ainda há um longo caminho de mentalidades que deve ser quebrado para se lá chegar.
Podíamos culpar exclusivamente a indústria da moda que continua a não aceitar que as modelos com curvas bem redondas são mulheres sexy. O facto de terem, por exemplo, banido a marca Elena Miró dos desfiles oficiais das semanas da moda revelam muito da atitude. Mas chutar as culpas para o quintal da vizinha não é suficiente. Por exemplo, quantos de nós adultos à partida conscientes usam a palavra "gorda/o" como ofensa gratuita? E quantas crianças aprendem dentro da sua própria casa que essa palavra significa algo hostil? Imensas. Provavelmente muitas das mesmas que crescem a ter como ícones as estrelas pop com medidas do corpo estudadas ao milímetro, sem que lhes seja explicado que aquela não tem, nem deve, de ser a norma.
A magreza de espírito é uma coisa lixada
Sempre achei curioso que a palavra gordo/gorda seja usada como ofensa. Diz o dicionário que gordo significa: "Que tem gordura, corpulento, volumoso, abundante; que não anda magro, que tem carnes; excelente para a cultura". Já o magro significa: "falto de carnes, descarnado; pouco abundante, escasso; pouco rendoso; que não é muito significativo; medíocre; fraco". Olhando para o global das duas descrições seria fácil dizer que afinal ser gordo é que é bom. Mas não é bem assim.
Um bom exemplo são os comentários ao spot em vídeo da Swimsuitsforall, deixados no Youtube. Frases como "Estão a tentar dizer-me que estes gajos bons podiam gostar desta vaca gorda?" ou "Nunca algum destes tipos iria querê-la a não ser que fosse a última baleia da ilha" mostram muito do pensamento enraizado sobre a beleza feminina. Em muito parecidos com o da dona Margarida Rebelo Pinto naquela crónica deplorável intitulada "As Gordinhas e as Outras": "acontece que a Gordinha é geralmente gorda e sem formas, tornando-se aos olhos masculinos pouco apetecível, a não ser em noites longas regadas a mais de sete vodkas, nas quais o desespero comanda o sistema hormonal, transformando qualquer bisonte numa mulher sexy".
Ao que parece é mesmo uma afronta dizer que uma mulher com coxas grossas, ancas largas e peito avantajado é sexy. Aliás, neste momento tanto aqueles internautas como a senhora da tal crónica devem estar a achar uma injustiça que a Ashley Graham, essa grande gorda de biquíni, possa fazer parte da dita revista e ser considerada um mulherão. A pequenez - ou magreza de espírito - é uma coisa lixada.
Mulheres plus size ou the right size?
Para que não sobrem dúvidas, acrescento: ser gordo não é ser obeso. A obesidade é um problema de saúde que carece de cuidados e atenções específicas. E mesmo isso não dita a beleza de uma pessoa. Contudo, não é de obesidade que esta publicidade trata, mas sim de volume, de formas, de corpos reais, em tanto parecidos com os da vasta maioria das mulheres adultas deste mundo. Que, já agora, também está na altura de deixarem de ter medo de usar biquíni. Não querendo parecer um género de Oprah, aceitar o próprio corpo é parte do caminho da sensualidade.
Lembro-me de ter confirmado isso há uns anos quando entrei nos bastidores de um desfile de modelos plus size em Milão. Entre barriguinhas proeminentes e coxas possantes, vi-me rodeada por mulheres a que alguns dos meus amigos chamariam de "grandes nacos". Todas vestiam acima do número 42, tratavam dos seus corpos (ser gorda também não é sinónimo de desmazelo) e tinham uma beleza proporcional. E ouvi uma frase que trouxe comigo: "A beleza e a elegância não são uma questão de número de roupa, mas sim de atitude!". Como diria o Henrique Raposo há uns tempos aqui no blogue ao lado: "Dizem que são mulheres plus size. Não entendo. Eu só vejo mulheres com the right size.".
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