&conomia à 4ª

Europa, para que te quero?

Muitas das variáveis do andamento da Economia e da exequibilidade das políticas públicas dependem, hoje, do contexto europeu.

É por isso assustador assistir ao nível de debate existente. Culpados não faltam.

Em primeiro lugar, porque ele é limitado aos do costume, com pouca visibilidade dada a quem se apresente com propostas – e fica daqui o reconhecimento do Livre que, ao menos, tenta – e excessiva visibilidade dada a quem se apresenta tentando levantar bandeiras que devemos recusar no espaço público – as da xenofobia e do racismo, do populismo e do fascismo.

Em segundo lugar porque a maioria dos partidos políticos continuam a fazer as listas para as Europeias ao abrigo de critérios quase exclusivamente ligados a lógicas de equilíbrios internos partidários, e muito pouco em função da qualidade dos candidatos e da sua capacidade de fazerem a diferença.

Obviamente que há andorinhas – Rui Tavares, um dos nossos melhores eurodeputados de sempre, Maria Manuel Leitão Marques, dona de um pensamento estruturado e próprio sobre Moeda Única, Concorrência, e Direitos Sociais (temas centrais ao interesse nacional) ou a refrescante Lídia Pereira, que com 27 anos apresenta credenciais impecáveis e sabe do que fala. Mas o tom geral não é esse, é um deserto de ideias europeias.

Em terceiro lugar, porque se fala de quase tudo menos Europa. As incidências da política interna levam a que todos os partidos com mais peso eleitoral prefiram transformar as Europeias numa espécie de primárias das legislativas, em vez de se discutirem os temas europeus.

Em quarto lugar, a comunicação social em vez de contrariar estas tendências, só as agrava. Procura, condiciona, protagoniza ela própria o afunilamento do debate.

E, por fim, nós. Nós aceitamos isto tudo, resignados. A Europa só nos interessa para nos queixarmos dela. Nunca pensamos nela como instrumento de construção de soluções. Ignoramos ainda mais estas eleições que outras, e votamos nelas pensando na política interna. Somos mais parte do problema que das soluções.

Como se resolve isto? Não sei bem. Acho que falar mal não faz. O xadrez europeu é complexo, as ameaças internas e externas são muitas, os benefícios e custos da participação têm equilíbrios cada vez mais voláteis e muito do que interessa passa por aqui.

Mas não nos facilitam a vida, lá e cá. A Europa não fala connosco e para nós. Fala para si e para os lobbies que a capturam diariamente. Os nossos partidos políticos ou não querem ou querem e não os deixam. A sociedade civil boceja a cada simpósio, conferência, debate e mesa redonda sobre o “futuro da Europa”. Não é o da Europa, é o meu e o vosso. Não parece, bem sei, mas é.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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