Portugal é um País muito particular em algumas coisas. Uma delas é esta: só discutimos a nossa produtividade e, consequentemente, a nossa competitividade no mercado internacional, a partir do custo do trabalho.

É a discussão que convém a quem fica de fora – os organizadores do trabalhado, vulgo empresários, vulgo capitalistas, só que destes, já lá vamos, temos poucos – que assim se isenta de fazer melhor, descarregando a responsabilidade no trabalhador.

Obviamente, de vez em quando, e de pouco em pouco, lá se ouvem umas coisas que põem em crise esta perspetiva.

Não faz espécie a ninguém que um trabalhador português emigrado fique logo mais produtivo? É dos ares? Se calhar não, porque em empresas que funcionam em Portugal, mas sob gestão de capitais estrangeiros (sim, pode ser a Autoeuropa, nunca ninguém se lembra das outras mesmo) os trabalhadores portugueses são tão produtivos quanto outros quaisquer. Coincidência? Ninguém se deve questionar, ao invés, porque é que a gestão portuguesa de investimentos no estrangeiro, com trabalhadores não portugueses, tantas vezes corre mal?

Se calhar isto tem tudo uma belíssima explicação, ou pelo menos, uma consideração que tem de fazer parte de uma explicação um nadinha mais racional: parte (talvez mesmo a maior parte) da falta de competitividade da nossa Economia não vem do fator trabalho, vem do fator capital.

E se aceitarmos – oh anátema – que neste País a maioria dos empresários carece ainda mais de formação que os seus trabalhadores, que a generalidade das empresas funciona com capital que é pedido aos bancos (o que logo ali reduz, e muito, a competitividade pela diferença do custo de remunerar acionistas que aportam capital e o custo de remunerar acionistas que não aportam capital, mais os juros a pagar à Banca que os emprestou) e que os Bancos emprestam normalmente sempre aos mesmos, os que conhecem, mesmo que isso seja a pior alocação possível de recursos financeiros escassos?

E no fim do dia, se tudo isto der, como deu, em perdas na Banca de 17 mil milhões de euros, ainda são os trabalhadores que suportam os disparates sob a forma de brutais aumentos do IRS e coisas afins o que ainda mais onera os mesmos do costume, que veem os seus ordenados estagnados em nome da falta de produtividade, e ainda acabam a pagar mais impostos por conta dos erros alheios.

Num estudo publicado este mês por investigadores do BCE (mas com portugueses, lá está) concluiu-se esta coisa extraordinária: no auge da crise os bancos portugueses responderam com uma redução do crédito às empresas e o pouco que sobrou foi canalizado… para empresas com problemas financeiros e em que as perdas de crédito não estavam totalmente refletidas nos balanços, porque os bancos não souberam levantar-se da mesa e assumir as perdas a tempo e horas, qual jogador novato no Casino. Também não fez mal – aos bancos – as perdas aumentaram, mas não foram eles que pagaram a conta. Fomos nós.

Pelo caminho, as empresas eficientes ficaram sem financiamento. Os trabalhadores dessas empresas acabaram a ter de aceitar salários estagnados ou acabaram no desemprego. Ou emigrados. Tudo para manter os zombies empresariais à tona. Até quando? E onde anda o Banco de Portugal?

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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