&conomia à 4ª

O que não nos estão a dizer sobre a CGD

Não vos vou falar da lista de que já ouviram falar 178.234 vezes nos últimos três dias. Sim, há ali dados preocupantes. Sim, a CGD pode e deve responder por aquilo que andou a fazer e dar garantias de que não se repete. Nada do que a seguir se escreve é para diminuir ou temperar a responsabilidade dos gestores e do acionista Estado. Ela existe e deve ser apurada.

Mas não podemos aceitar em silêncio duas ideias que andam à boleia deste Relatório.

Muito diretamente: não, a CGD não foi a única e não é por ser um banco público que se meteu em sarilhos, todos os bancos o fizeram, em certa medida, e o BES mais do que todos; não foram os portugueses que andaram a viver acima das suas possibilidades, foram meia dúzia de supostos “empresários” que ainda são capazes de ter andado a dar entrevistas sobre a necessidade de cortar salários e pensões e a nossa imprensa aceita acriticamente esta palhaçada completa.

Vamos aos dados. Em 2015, e se alguém por aí tiver dados mais recentes por bancos, por favor avisem (vá-se lá saber porquê, deixaram de ser publicados sem ser de forma agregada) a CGD estava como outros grandes bancos, isto é, para além do problema BES/NovoBanco, exatamente onde seria de esperar que um banco da sua dimensão estivesse:

Segundo, o problema do malparado em Portugal não está nas famílias, e muito menos no crédito à habitação. Os portugueses não andaram a viver acima das suas possibilidades, com exceção de meia dúzia que aparecem citados no Relatório da CGD. Essa é uma mentira conveniente usada por alguns políticos sem escrúpulos.

Dados de dezembro do Banco de Portugal não deixam dúvidas. Basta reparar que as curvas de evolução são parecidas, mas o malparado das famílias é menos de um terço do total. Sempre foi.

E, dentro das famílias, o incumprimento no crédito à habitação anda em torno dos 5%, ou menos de um quinto do malparado das empresas. Tendo em conta as políticas de austeridade dos últimos anos, com perdas de rendimento e aumentos de impostos simultâneos, os portugueses são uns heróis.

Portanto, critiquemos a gestão passada da CGD, mas não nos deixemos condicionar pelos termos em que a conversa pública se vai processando: ao serviço dos interesses do costume e da defesa de políticas públicas que infligem dor desnecessária nos 99% que pouco têm a ver com tudo isto.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate