&conomia à 3ª

O Mistério Público foi (des)vendado

E mais uma vez a realidade ultrapassou a ficção em Portugal. O melhor argumentista de Hollywood não teria feito melhor com a riqueza de tal enredo e os excelentes atores que justificaram o orçamento milionário de mais uma produção nacional.

A porta giratória entre a política e os negócios, como se dizia nos bons velhos tempos em que ainda se tentava combater a corrupção, é agora afinal um postigo empenado em que já nem serve para mercadejar um miserável saco de robalos.

A prisão preventiva de um político ex-primeiro-ministro num qualquer país europeu deveria ser uma exuberante demonstração do Estado de Direito a funcionar em pleno, numa democracia desenvolvida onde os poderes executivo, legislativo e judiciário garantem os direitos fundamentais dos cidadãos.

A confiança na justiça que tardava, mas não falhava, era nessa altura exacerbada pelas hilariantes escutas telefónicas do presidiário onde exibia elevada competência no domínio de linguagem alegremente codificada, especialmente em conversas com o seu alegado corruptor e comprovado amigo.

O génio da comunicação telefónica deixava assim exasperados os investigadores que inexplicavelmente terão achado que tão estranha prosa seria reveladora de algum ilícito criminal, quando apenas seria a sua fértil e incompetente imaginação a pregar-lhes mais uma partida.

Após tantos e longos anos de investigação às imaginárias relações entre o ex-político e os líderes do sistema financeiro e das principais empresas portuguesas, de vários ramos de atividade, ficamos agora finalmente a saber que foi tudo uma grande e boa cavala. À portuguesa…

Fica, no entanto, a sensação de que tudo isto podia ter sido evitado se o Ministério Público tivesse juízes, mas dos bons, nas suas equipas a pôr juízo nos quebra-cabeças da investigação para não andarem todos a perder tempo com minudências da acusação.

E podia ter sido tão fácil… bastava ter percebido que se de facto a linguagem era codificada, era óbvio que a forma e o tom opressor com que o ex-político tratava o seu melhor amigo, era apenas mais um disfarce da sua relação de oprimido. Numa agora clara e evidente relação de corruptor e corrompido, mas ao contrário… pois o dinheiro que parecia pedir ao seu amigo era afinal dinheiro que, sabe-se agora, seria obrigado a aceitar pelo seu corruptor.

Para aqueles que ainda duvidam que “vão ficar todos bem”, resta confiar na competência das instituições portuguesas e na honestidade de todos os arguidos da Operação Marquês, bem como na legalidade dos seus atos. Palavra de honra...

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