&conomia à 5ª

A economia não é uma soma de empresas

Em algumas franjas do comentariado economi-exibicionista parece que a política do Estado só deve existir para apoiar ou sair da frente das empresas. Confunde-se política económica com política para as empresas.

E nas notícias também por vezes parece que a economia saudável se resume a uma banca responsável. Assim, parece que também se confunde funcionamento da economia com o financiamento às empresas, como se bastasse haver crédito para haver condições para o pagar mais tarde.

Também é verdade que boa política não é o mesmo que uma multiplicação de leis. E felizmente o parlamento português já começou a ter uma contabilidade do seu caudal (e da legislação importada de Bruxelas) e um balanço dos custos que o caudal legislativo implica ao tecido produtivo.

E lá fora também se tem confundido economia inteligente com economia chico-esperta. E neste caso a chico-espertice ultrapassa os limites da fraude e chega mesmo ao campo da conspiração, como no caso da industrial automóvel alemão.

Infelizmente também se confundido “Investigação e Desenvolvimento” com ciência. Esta palavra mágica que se sublinha com pompa aristocrata, ciência, parece que ser confundida com todas as actividades de produção de conhecimento (muito deste já virado para aplicações muito plebeias).

E não se poderá no futuro, talvez, confundir ausência de crescimento com estagnação económica. É que pode haver crescimento sem mudança, e pode haver transformação sem crescimento … e numa quadro de mudanças climáticas e de desafios de recursos vai importar cada vez mais saber para que serve e como se medem as actividades realmente produtivas, geradoras de bem-estar e indutoras de sustentabilidade.

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E com este artigo chega ao fim a minha ocupação de um espaço virado para a intervenção activa na esfera pública nos domínios do debate económico. Agradeço ao Expresso o convite e o apoio ao longo deste tempo, naquilo que foi uma colaboração que muito me honrou e consistiu uma fonte de satisfação. Termina em virtude de novas funções públicas, mas mais discretas. Mas termina assim também um ciclo longo de colaborações regulares em colunas de jornal que começou com o Diário de Notícias em 2005, continuou com o Público e mais tarde ainda no Diário Económico. Sempre acreditei que a economia é importante demais para que fique entre a rodas dentadas das fábricas ou pelas salas de reuniões das empresas de serviços; o debate crítico e útil a todos tem ser feito nas “ruas” e nas “praças”, que hoje são já muito digitais. O contexto importa, e numa economia com cada vez maior componente imaterial a qualidade do contexto importa cada vez mais.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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