As eleições presidenciais de 2021 eram, como são todas as reeleições de Presidentes, previsíveis. Todos os Presidentes da República, até hoje, foram reeleitos. Todos. Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio, Aníbal Cavaco Silva e agora Marcelo Rebelo de Sousa. Somos assim. Conservadores, gostamos pouco de grandes mudanças.

O país, no estado a que chegou, optou por continuar com o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Estamos em plena pandemia, um cenário que ninguém previa. Em pleno Estado de Emergência decretado por este Presidente. Era claro, por tudo isto, sem descurar a questão da qualidade dos seus adversários, que Marcelo Rebelo de Sousa vencesse facilmente estas eleições, apesar das óbvias limitações ao normal decurso do acto eleitoral.

Existem, obviamente, ilações a tirar. Por um lado, parece óbvio que existe um forte descontentamento das pessoas, mais evidente na faixa interior do país, nos eufemisticamente chamados “territórios de baixa densidade”. Estão fartas. Fartas de Partidos. Fartas de promessas. Fartas de conversa fiada. E estão pobres, continuam pobres. Este é o ponto. Um país pobre revolta-se. E o país pobre, com indicadores de pobreza a aumentar, com fraca capacidade de um Estado pesado que não dá resposta, sem elites respeitadas ou que se possam dar ao respeito, sem alternativa, vota em forma de protesto, pois se não são ouvidos a bem sê-lo-ão a mal. E é claro que com quatro candidatos extremistas/populistas como foram Ana Gomes, André Ventura, Marisa Matias e João Ferreira, as pessoas tinham muita opção de escolha para protestar. E escolheram o protesto que melhor lhes pareceu.

No entanto, penso que a votação de Marcelo Rebelo de Sousa com o apoio do PPD/PSD, do CDS e parte do PS (envergonhado, calculista ou falta de comparência), deve merecer uma reflexão de todos. Esta eleição ditou o fim, já anunciado aquando da votação contra no Orçamento de Estado por parte do Bloco de Esquerda, da Geringonça. Mas, por outro lado, existiu um forte protesto dos eleitores do Centro Direita, que não gostaram de ver Marcelo, ao longo de cinco anos, a segurar o Governo de António Costa. Ora, é compreensível que este descontentamento exista. Primeiro, porque o Governo do Partido Socialista, sobretudo este último é fraco e pouco competente (para não ser demasiado ácido), mas importa entender, de uma vez por todas, que não cabe ao Presidente da República, ser oposição ao Governo. Essa função é para a Oposição, não cabe ao Presidente da República ser “uma força de bloqueio”.

Passada a reeleição, penso que precisamos de um Presidente mais atento, mais exigente e sobretudo com maior capacidade de influenciar positivamente o nosso futuro como país e como comunidade. A crise económica está ao virar da esquina. O respeito por este Governo é hoje baixo. Foi claro que, para Marcelo, quer Eduardo Cabrita, quer Francisca Van Dunem, não deveriam estar no Governo, faz tempo. Por isso é importante mais veemência, por parte do Presidente, perante o caos governativo que existe. Tal como é importante que o país saiba construir uma alternativa séria, credível, mas arrojada.

É notório que, apesar do fim da Geringonça, este Governo terminará o mandato, sobretudo pelo receio de ver o Partido de André Ventura crescer em número de deputados na Assembleia da República, mas chegará ao fim com fortes dificuldades. O pântano está já no meio de nós.

É chegada a hora. Não de votarmos em quem aponta o dedo, em quem fala alto e grita, mas em quem aponta um caminho alternativo, credível, realista e de união de todos os portugueses. É notório que, por um lado, a corrupção não tem tido resposta certeira, e por outro, não há um projecto galvanizador para mudar o país, capaz de o colocar na rota do crescimento económico, a única solução para sair da pobreza. Por isso, os votos fogem para os extremos, quando os partidos do regime somente olham para o seu umbigo e perdem a visão do país, que, passe a repetição é mais do que Lisboa, aqueles que ficam para trás respondem protestando, votando em quem grita mais alto, pois querem gritar e não têm quem os oiça.

Que Marcelo Rebelo de Sousa saiba interpretar o sentimento do povo português. Esta foi uma vitória sua. Só sua. Igual a Aníbal Cavaco Silva. Vitórias das personalidades. E agora começa a corrida para 2026, mas, até lá, precisamos de um Presidente forte, independente, presente, firme, defensor de todos os portugueses, sobretudo dos que têm sido esquecidos, e muito atento, mas que não assuma o que não é sua responsabilidade. Sou dos que teve pena de não ter tido Marcelo Rebelo de Sousa como Primeiro-Ministro. Penso que todo o seu conhecimento e a sua astúcia poderiam ter resultado em São Bento. Mas a história não quis. Está hoje em Belém. Deve ser Presidente de todos, sem excepção, mas também não pode ser um garante de incompetência governativa. Precisamos de liderança. De Sentido de Estado. Ao Governo a governação, ao Presidente a garantia de manter o regular funcionamento das instituições.

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