&conomia à 2ª

Covid na óptica do utilizador

Que raio de ano o de 2020. Para esquecer. Por tudo, por tantas más razões. Mudou-nos hábitos, mudou a nossa forma de estar e arrasou a nossa economia.

O número do nosso défice não anima: mais de 9 mil milhões de euros. Aumentou a despesa, desceu a receita. Isto é o pior que um Ministro das Finanças pode desejar, pois ele será tanto melhor quanto for a conjuntura económica que lhe calhar em sorte, não é Ronaldo quem quer, mas somente quem pode.

Aqui não há política, nem Partidos. Claro que podemos pensar em formas diferentes de responder, mas o impacto negativo era inevitável.

Quando chega a conversa sobre as lições sobre esta pandemia, a irritação é gritante. Mas confesso que também entro muitas vezes nessa ladainha.

Se há lições que nos chegam de tudo isto é a enorme vulnerabilidade e dependência a que estamos todos, sem excepção, sujeitos.

Este vírus não escolheu ricos ou pobres, brancos ou negros, homens ou mulheres, velhos ou novos, nada. Este vírus foi igualitário. Tal como foi igualitário o impacto em todas as economias. Todas, novamente sem excepção. O exemplo da Suécia, quanto à forma “laissez faire” de combater este vírus, não se reflectiu assim tanto em ganhos económicos, não chegou confiar na prudência e na responsabilidade dos cidadãos. A pancada foi geral. Global, melhor dizendo. E foi global, porque todos dependemos de todos. E não é com isolacionismo ou diatribes anti-globalização que lá vamos. Porque é impossível pensar num mundo em que não se possa viajar, em que não se possa abraçar o próximo e em que não se posso vender um produto Made in Portugal algures no Texas ou em Wuhan. Recuso-me a aceitar ou a defender um mundo fechado, um mundo de fronteiras fechadas cobertas de muros. Por mais pandemias que existam.

Respeito muito a ideia de estudar um “Great Reset”, como o Fórum Económico Mundial propõe. Mas atenção. Redesenhar, não pode significar impor, nem alterar o mundo para uma versão amistosa de capitalismo socialista. Por isso, ajustar sim, mudar para pior não obrigado.

Não podemos perder o foco, e o foco é aguentar. Procurar novas formas de resposta. Proteger-nos obviamente, mas encontrar outras respostas, em todos os sectores. De forma solidária. De forma a que não se deixem para trás pessoas que, pelo impacto de uma economia fechada devido à pandemia, viram as suas vidas devastadas. Bem sei que quem vê os seus negócios desaparecer olha para esta coluna de opinião como mera conversa. Respeito esse sentimento, pois o rombo foi fundo. Mas não dá para ficarmos a pensar no que era, no que foi. E é aqui que entra o papel da liderança dos países e da Europa. Nessa resposta conjunta. Na necessidade de entendermos, que esta não é uma crise económica vulgar, de défices crónicos ou de má gestão.

Este vírus veio mudar, irremediavelmente, a nossa vida. Todos sentimos. Então quando o bicho ruim nos bate à porta, como me aconteceu em plena época de Natal, começamos a olhar para tudo de outra maneira, a nossa maneira de pensar e a perspectiva mudam.

Chega o Covid, família infectada também, não podemos sair de casa. Como viver assim? Com apoio familiar, claro está. Mas e quem não o tem? Em pleno período de espera pelo resultado a esperança de ser um engano, um falso positivo, para depois com a resposta final positiva chegar e vir também a preocupação pelo bem-estar de todos os nossos mais próximos. Com quem estivemos? Isto é tudo tão rápido. As notícias sucedem-se, os contágios são imparáveis. Raio do bicho ruim. E agora? Agora entra a gestão familiar. Complexa. Mas, felizmente, com uma economia online que nos permite fazer face às necessidades básicas, e com apoio da Saúde. Aí sim, isto evoluiu. As farmácias e os grandes hipermercados dão hoje resposta. E isto é um aumento da nossa qualidade de vida. Inegável.

No meio desta pandemia, a luz, a centelha de esperança, de que algo pode ajudar a mudar este destino. Agora é esperar pela vacina, a esperança no meio desta escuridão, o ténue brilho que ao propagar-se iluminará as trevas. Um projecto de empresas privadas, contando com investimento e conhecimento feito em instituições públicas, ganhando escala com a aquisição em massa da União Europeia que, agora sim, mostrou, de forma clara, o sentido da sua existência. Enquanto a distribuição das vacinas não se massifica, chegando à almejada imunidade de grupo, resta-nos esperar que quem contraia não tenha mais problemas.

2020 é para esquecer. Foi um ano colectivo perdido, não há prismas pessoais, desculpem-me os que foram pais, os que se casaram, os que foram promovidos, aqueles que foram campeões, o que quer que seja, tudo sabe a pouco, nada parece chegar para apagar ou diminuir o impacto de um ano enguiçado como o que terminou.

Deus nos dê saúde. A todos. Votos de um Bom 2021, que bem precisamos.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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