&conomia à 2ª

E os profissionais de saúde do Privado?

Enquanto o resto do mundo se debate na encruzilhada entre Economia vs Saúde, nós por cá, em Portugal, temos a grande luta, naquilo que aos responsáveis governativos diz respeito, do Público vs Privado.

É, talvez por aqui, que podemos encontrar uma das razões do nosso atraso crónico. Seja por ideologia ou por mera sobrevivência no poder, dada a maioria de Esquerda, termos um Governo que faz da luta contra o sector privado bandeira, é, no mínimo, preocupante.

As vacinas começaram finalmente a chegar. Todos assistimos à cerimónia ridícula de chegada das vacinas, articulada pela União Europeia, a Europa de que certos políticos só falam quando as coisas correm mal. Desde o número da ministra da Saúde a pousar para a fotografia, passando pelos directos do transporte da vacina para as instalações onde ficam armazenadas, mas que deveriam ser secretas. O retrato paroquial do país, pois claro.

E no meio da euforia da chegada da vacina contra a Covid-19, ficámos a saber, pelo Expresso, que os profissionais de saúde do sector privado não sabem quando serão vacinados.

Ora, se há algo que esta pandemia nos ensinou é que todos, mas mesmo todos os profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, auxiliares e tantos outros), são poucos para dar resposta à pandemia no sector da saúde. Esta cegueira ideológica continua a sair-nos cara. Num momento em que não podemos desprezar hospitais, equipamentos, mas sobretudo profissionais de saúde para pessoas doentes de Covid-19, mas também para todos os outros doentes que continuam a precisar de cuidados de saúde, andamos nestes ódios, amuos e números que em nada fortalecem um sector que é, e continuará a ser, crucial para a vida de todos nós.

Não colocar os profissionais de saúde que trabalham no sector privado, que estão a receber doentes de todas as patologias, que trabalham horas a fio, que também colocam a sua vida em risco, na lista prioritária de quem deve receber a vacina é um erro clamoroso e revelador de concepções deturpadas do que deve ser uma sociedade livre, democrática e justa.

Esta cegueira ideológica terá em linha de conta que o sector privado recebe as pessoas que têm ADSE (funcionários públicos, vários de serviços essenciais, sem falar de outros subsistemas de saúde das Forças de Segurança - SAD- e dos Militares - ADM)? E que também responde na primeira linha a todos os portugueses com seguro de saúde? É curioso que, mais de 3 milhões de portugueses possuem seguros de saúde, qualquer coisa como um aumento de 22% só este ano. Este ano, o ano da pandemia. O ano de bater no peito do SNS. Ora, é notório pelos números e pelas experiências de todos, que o SNS não chega para suportar a resposta de saúde a todos nós, mormente em períodos de pico de procura. É inevitável. Como sabíamos que nos estavam a mentir sobre a capacidade de resposta das vacinas da gripe, como bem disse o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, também não é preciso ser um grande matemático para perceber que o Serviço Nacional de Saúde público, não responde à procura simultânea de um tão grande número de portugueses.

Mas o facto é que, tal como foi revelado pelo presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada, as unidades de saúde privadas não foram incluídas na vacinação contra a gripe, não precisamos dos poderes dedutivos de um Sherlock Holmes, para perceber o que se pode estar a passar.

Por tudo isto, é fundamental contar com o sector privado, com as Misericórdias e todo o sector social, na guerra contra a pandemia não se podem desperdiçar nem soldados, nem recursos, sobretudo num país de recursos limitados como é o nosso. E, por uma questão de justiça e equidade, não podemos ter profissionais de primeira e profissionais de segunda. Mas, com esta forma de governar, com esta sanha ao sector privado que esta Geringonça, agora coxa, faz há 6 anos, o nosso atraso continua. Faz falta moderação deste ímpeto revanchista, que, se não for refreado, nos faz temer pelo futuro.

Como é óbvio, todos os profissionais de saúde quer trabalhem num hospital público ou num hospital privado devem ser dos primeiros a receber a vacina. Um Estado sério e a sério, não faz distinções. Ou não devia fazer. Aqui sim, a igualdade, sem condições ou obstáculos, deve estar presente.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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