Os ventos europeus voltam a fazer sorrir as perspectivas económicas. Depois da cedência da Hungria e da Polónia, em prol do caminho certo, a Europa pode voltar a sonhar. É que o pesadelo tem de acabar. Tudo o que estamos a atravessar é dramático. Muito. Ver tantos e tantos negócios fechados, nos mais variados sectores de actividade, é ter pânico do futuro, pois a paragem profunda da nossa economia não traz consigo nada de bom. Mas felizmente os sinais que nos chegam são algo positivos. Afinal o Estado de Direito não é negociável. E não pode nunca ser. Não há bazuca que permita o atropelo (ou entre parênteses) do respeito pelo espaço comum europeu do Estado de Direito. Aqui, na Europa, não vale tudo. A democracia e o Estado de Direito democrático demoraram a chegar a Portugal, tivemos uma revolução para que hoje pudéssemos viver em liberdade, não concebo que seja moeda de troca muito menos que se queira quantificar o seu valor.
Desbloqueado o desacordo europeu, vem aí o dinheiro. É muito e vem num curto espaço de tempo e estas duas características dos fundos para a recuperação económica europeia, aos mais atentos à nossa história, lembraram oportunidades perdidas no passado.
Para Portugal, não há espaço para brincadeiras. Há, isso sim, obrigação de investir cada euro dessa bazuca, de forma produtiva. Cada euro desperdiçado ou “desviado” de fins produtivos será mais um euro investido no marasmo económico em que estamos mergulhados e, infelizmente, habituados.
Eu sei que é um conceito difícil para certos governantes que fazem do Estado, ou antes administram a coisa pública como de um condomínio privado se tratasse. Falo, obviamente, deste Governo.
É deveras curioso perceber que, anos e anos a ouvir falar sobre a necessidade de convergir com o pelotão da frente da União Europeia, chegamos a esta década com uma média de crescimento de -0,3%. Leu bem. -0,3%. As crises económicas não são iguais em todo o lado e a preparação, a folga que tenhamos à partida fazem-nos superar melhor os momentos de quebra. Basta um exercício singelo, comparar as ajudas públicas que a Alemanha presta às empresas alemãs com as que por cá se “emprestam”. Não é somente uma questão de tamanho ou de riqueza nacional é também uma questão de folga orçamental, temos de poupar nos anos bons para gastar nos anos maus.
Mas continuemos com os exemplos. Nós estamos mais perto da Bulgária, um dos países mais pobres a entrar na União Europeia, do que dos países de topo, os da Europa a 15. A Bulgária entrou em 2007 e na altura o nosso PIB per capita era equivalente a 84,5% da média europeia e o búlgaro a 38,6%. Hoje, pelas previsões da Comissão Europeia, Portugal piorou para 77% e a Bulgária melhorou para 54,9%. É isto o país da ideologia de todos iguais, todos pobres. Ao ser promovido o nivelamento este não é, como é por demais evidente, feito por cima, ao invés somos todos arrastados para baixo.
Para reduzir e combater a pobreza precisamos de crescer, como podemos repartir, de forma justa, um bolo que encolhe ao invés de crescer?
E nesta ideologia, a chegada da bazuca é uma oportunidade que não podemos desperdiçar. Ao que parece o Plano de António Costa e Silva (ainda se lembra dele?) ficou na gaveta. Agora até temos o porta-voz do Partido Socialista a falar da importância dos fundos europeus, pois 2021 será ano de eleições autárquicas. Ora isto já nem é escondido. É às claras. Como ficou destapada a decisão ideológica e não sustentada da nacionalização da TAP, com os problemas que conhecemos hoje e ainda não sabemos o final da história, apesar de sabermos, logo à partida, quem paga no final das contas. A TAP está a despedir, a reduzir vencimentos, com a necessária autorização Europeia, por ser... uma empresa pública.
Depois de tanta ideologia, de tanto fervor pelo Estado, como motor do crescimento económico, não vislumbramos que essa ideia salvífica nos retire da última posição na categoria de investimento público, dados da OCDE.
Portanto, a utopia de um Estado grande, de uma economia nacionalizada e dependente do poder de quem manda tem os seus efeitos. E é contra esta linha que é urgente afirmar uma alternativa. Já. Enquanto nós estagnamos, outros prosperarão e, aí, da cauda não fugiremos.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt