Os ciclos de sono e as desigualdades de género no desempenho escolar
Do primeiro ciclo à Universidade tem-se acentuado o fosso entre rapazes e raparigas no que respeita ao desempenho escolar. Em média, elas ‘são’ melhores do que eles
Do primeiro ciclo à Universidade tem-se acentuado o fosso entre rapazes e raparigas no que respeita ao desempenho escolar. Em média, elas ‘são’ melhores do que eles
Há fatores culturais e sociais que explicam esta desigualdade. Por exemplo, em geral, há uma maior benevolência para a indisciplina e irrequietude nos rapazes, porque se espera que as meninas sejam mais sossegadas. Esta diferença de tratamento, que começa no seio familiar, pode ser geradora de maior disciplina e atenção nas raparigas, refletindo-se positivamente no seu desempenho escolar.
As diferenças no contexto escolar podem também resultar da desigualdade esperada no mercado de trabalho. O facto de as mulheres ganharem menos e enfrentarem mais bloqueios à progressão profissional faz com que, desde cedo, sintam que se têm de esforçar mais.
Há também fatores biológicos muito referenciados, como por exemplo o facto de as raparigas atingirem a maturidade mais cedo. Outro fator biológico, menos explorado por cientistas sociais, são as diferenças no sono entre homens e mulheres. Estudos sugerem que os rapazes têm ritmos circadianos mais longos, tendo maior predisposição para adormecer mais tarde e acordar também mais tarde. As raparigas têm maior predisposição para atividades no início da manhã. Além disso elas lidam melhor com a privação do sono e recuperam mais rapidamente.
Lusher e Yasenov, da Universidade da Califórnia Davis, estudaram o impacto dos ciclos de sono no desempenho escolar.
Foram consideradas escolas de um país do Leste europeu com os 2º e 3º ciclos de ensino que aplicam a alternância de horários mensalmente. Por exemplo, num mês, os alunos do 2º ciclo começam as aulas às 7h30 enquanto que os alunos do 3º ciclo começam as aulas à 13h30. No mês seguinte, os alunos do 2º ciclo começam à tarde e do 3º ciclo de manhã.
Apesar da alternância de horário, os estudantes mantiveram os mesmos professores e a ordem das disciplinas.
Foram considerados todos os momentos de avaliação de 2008 a 2014, num total de 240 mil observações. Em média, os resultados das raparigas são superiores aos dos rapazes, mas as diferenças estreitam-se, significativamente, para o período da tarde. Por exemplo, considerando a primeira disciplina da manhã (que alterna depois para a primeira da tarde), a diferença horária explica até 16 por cento da desigualdade no desempenho escolar entre géneros.
Os ciclos de sono não devem ser ignorados, sobretudo porque em muitos países, incluindo Portugal, grande parte das turmas, nos primeiros ciclos de ensino, têm horários predominantemente de manhã.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt