Trocando em miúdos

Persiste a escassez de vacinas

Embora já tenha abordado este tema nas últimas semanas, a vacinação, ou por outro lado, as dificuldades na implementação do plano de vacinação, a par das várias questões que têm sido suscitadas a propósito da segurança das vacinas, continuam a marcar a realidade nacional. Os aspetos colocados, primeiro sobre a vacina da Astrazeneca e agora sobre a vacina da Janssen, só vêm introduzir mais constrangimentos aos já existentes devido aos sucessivos incumprimentos pelas empresas farmacêuticas. Estava previsto Portugal receber 6,9 milhões de vacinas da Astrazeneca e 4,5 milhões de vacinas da Janssen.

Já todos sabemos que o problema central que está a impedir a rápida vacinação da população é a escassez de vacinas. Este é que é o verdadeiro estado de emergência, que devia fazer soar as campainhas, desenvolvendo um conjunto de diligências para procurar soluções alternativas e diversificar a aquisição de vacinas, investir na criação de condições para a produção de vacinas em Portugal e suspender a validade das patentes, para aumentar a produção das vacinas.

Mas perante isto, o Governo, bem como os partidos da política de direita, preferem continuar a insistir em respostas ao nível da União Europeia, que já revelou não ser capaz de as assegurar. A União Europeia tem inclusivamente sido alvo de chacota a nível mundial pela forma desastrosa como está a gerir este processo. Hoje os países da União Europeia que se limitam às vacinas disponibilizadas pelos acordos estabelecidos por esta, têm uma taxa de vacinação muito baixa, quando comparado com outros países.

Por cá, os últimos dados da vacinação revelam que cerca de 16% da população tem uma dose da vacina e somente 6% tem a vacinação completa. São valores extremamente baixos para enfrentar a epidemia com maior robustez. Se observarmos a vacinação da população com mais de 80 anos, um dos grupos prioritários na vacinação, cerca de 90% tem uma dose e 51% tem a vacinação completa. A este ritmo de vacinação torna-se cada vez mais improvável alcançar o objetivo traçado de ter 70% da população adulta vacinada no Verão.

Reiteradamente, os especialistas referem que a vacinação é a solução para proteger a saúde da população. Na última reunião do Infarmed, vários especialistas associaram a redução significativa de incidência da doença nas pessoas com mais de 80 anos à vacinação.

E apesar da evidência revelar a importância da vacinação, o Governo Português não procura soluções para aumentar o fornecimento de vacinas, aliás como outros países da União Europeia já o fizeram como a Hungria e a Eslováquia, com taxas de vacinação bastante superiores à média da União Europeia, ou que ponderam avançar como a Alemanha.

A vacina está a ser utilizada como uma oportunidade de negócio, mas também como elemento de geopolítica. Importava perceber por que razão, estando a ser desenvolvidas dezenas de vacinas pelo mundo, algumas já autorizadas pela OMS, o Governo Português não diversifica a compra de vacinas e mantém-se fiel a acordos com empresas em que a única coisa que lhes importa é aumentar o lucro? O que está a impedir de o fazer? Só encontro uma resposta, falta de coragem para enfrentar os interesses das empresas multinacionais e falta de vontade política, com prejuízos graves no plano da saúde, mas também no plano económico e social.

A vacina deve ser considerada um bem público e como tal deve estar ao serviço dos povos e da humanidade! É inaceitável que em pleno século XXI não seja assim, porque os interesse das empresas multinacionais falam mais alto. E isto não podemos aceitar, a bem da humanidade!

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate