Um bife mal passado

Afeganistão, tropas portuguesas e a Conferência de Londres

20 janeiro 2010 16:21

Alexander Ellis, Embaixador Britânico

20 janeiro 2010 16:21

Alexander Ellis, Embaixador Britânico

Não é fácil fazer discursos brilhantes sobre o Afeganistão. Nem o Presidente Obama, o mestre da versão moderna da retórica, conseguiu alcançar o nível habitual quando falou aos alunos de West Point no mês passado. Porquê? Porque não há escolhas fáceis, ou soluções rápidas. Esta é uma campanha de longa duração, para alcançar fins que dependem de muitos actores para além das forças armadas da ISAF.

Porque a comunidade internacional, com mais de 40 nações envolvidas, continua a lutar no Afeganistão.

Porque vai Portugal enviar, nas próximas semanas, um grupo de militares sem restrições para se juntar às forças já presentes? Citei num post, há alguns meses, as razões principais para a presença no Afeganistão. O melhor resumo destas razões ouvi-as recentemente de um General Britânico, Sir Peter Wall, que disse que a luta no Afeganistão era uma luta sobre que forma de governação resultaria - a dos Talibãs, ou uma que ofereça à população local alternativas melhores. Alternativas como, por exemplo, ir à escola ou ter acesso a cuidados básicos de saúde. A comunidade internacional quer um Afeganistão estável e seguro, soberano em toda a extensão do seu território e capaz de dar ao seu povo um governo representativo e condições para a prosperidade económica.

Mas há uma segunda pergunta. Porque nos importa a forma de governação dum território tão distante e desconhecido? Há quase dois séculos que os meus compatriotas não estavam presentes naquela parte do mundo para melhorar a forma da democracia, ou os direitos dos locais. Mas houve uma profunda mudança desde essa altura. Hoje em dia, a forma de governação no Afeganistão tem um impacto directo sobre a segurança do Reino Unido, e não só. Não se pode dissociar uma da outra.

Por isso, Gordon Brown será anfitrião, juntamente com o Presidente Karzai e Ban Ki-moon, duma conferência em Londres no dia 28 de Janeiro sobre o futuro caminho do Afeganistão. O Ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado será um dos participantes. Os objectivos da reunião são claros; definir as condições para o Afeganistão controlar por completo a sua segurança e  a forma como a comunidade internacional pode ajudar o Presidente Karzai a atingir as metas estabelecidas no seu discurso de tomada de posse nas áreas de:

·       segurança;

·       desenvolvimento e governação;

·       enquadramento regional e internacional.



Os três elementos estão nitidamente ligados. Não há desenvolvimento sem segurança. Mas também não há segurança sem um quadro regional mais estável. Por isso se fala em 'Af/Pak'. Foi por isso que David Miliband visitou recentemente  Paquistão.

O espírito de Obama deve manter-se. Yes we can, mesmo no Afeganistão. Mas o 'we' desta frase são muitos, que devem trabalhar juntos. Daí a Conferência de Londres.