BLITZ 40 anos: “Quando tinha 16 ou 17 anos, um tipo da turma comprava o jornal e os outros todos liam”, Pedro Fradique (Lux Frágil)
Pedro Fradique
Rita Carmo
Em contagem decrescente para a grande festa do 40º aniversário da BLITZ, pedimos a músicos, promotores e jornalistas que resgatem recordações de quatro décadas de história. E que nos deixem uma mensagem para o futuro: “Manter uma certa independência de espírito e não estar completamente no pacote do que é previsível, é o mais importante”, diz Pedro Fradique, do clube lisboeta Lux Frágil
No momento em que entramos em contagem decrescente para agrande festa dos 40 anos da BLITZ, na Meo Arena, em Lisboa, a 12 de dezembro – com concertos de Xutos & Pontapés, Capitão Fausto, Gisela João e MARO –, pedimos a músicos, promotores, jornalistas, radialistas e outras personalidades que vão ao baú resgatar memórias de quatro décadas de história, deixando-nos, também, uma mensagem para o futuro.
“Tenho agora 54 anos, portanto, quando tinha 16 ou 17, havia um tipo da turma que comprava o BLITZ e os outros todos liam”. É desta forma que Pedro Fradique, diretor de comunicação e um dos programadores do clube lisboeta Lux Frágil, recorda os seus primeiros tempos de leitor do BLITZ, quando o jornal surgiu em 1984, muito antes de se tornar colaborador, “no final de 1992, 1993, por aí”. “Nunca houve grande coisa antes. Eu não apanhei o ‘Musicalíssimo’ nem essas coisas. Lembro-me de haver uma publicação que coexistiu com o BLITZ algum tempo, que era o ‘LP’, da Manuela Paraíso, mas na cultura adolescente dos anos 80, a época em que a vivi, era isso”.
O que mais destaca dos primórdios do BLITZ, é “a ligação entre as pessoas”. “Lembro-me de papar [a secção] ‘Pregões e Declarações’ e as críticas de concertos eram uma coisa fundamental: lias ou porque tinhas ido e querias saber como aquilo era visto ou, muitas vezes, porque nem tinhas ido e querias saber o que tinha acontecido”, recorda, “por razões históricas, estou muito ligado ao jornal. Quando passa a revista, é outra coisa. Ganham-se umas coisas, perdem-se outras, também”.
Loading...
“Durante algum tempo, o BLITZ é, no panorama da imprensa, ou o que lhe queiramos chamar, um ovni, uma coisa diferente”, continua, “havia o ‘Se7e’, havia outras coisas, mas o BLITZ era, assumidamente, outra coisa, e acabava por ser um agregador de pessoas com interesses comuns. Os concertos que havia nessa altura eram muito poucos. Encontrava-se toda a gente, porque havia três concertos por ano”. Recordando a escrita cáustica de alguns jornalistas, reflete: “claro que houve sempre críticas. Há sempre quem ache que podia ser mais assim, mais assado, mas isso é como tudo. É o facto de existir que permite que se debata o que pode ser ou não ser”.
Elege a palavra “liberdade” para descrever aqui que sentiu quando colaborou com o BLITZ na década de 1990: “liberdade total. Uma das primeiras coisas que fiz quando comecei a colaborar foi sobre um concurso de música moderna que tinha havido em Lisboa. Escrevi um bocado a arrasar e recebi logo uma carta do manager da banda vencedora… um escândalo”. Fradique salienta ainda as diferenças entre o panorama musical de hoje e de há 40 anos para falar sobre aquilo que poderá ser o futuro da publicação: “há uma militância na vida de melómano que é completamente diferente em 1987/88 e em 2024. Manter uma certa independência de espírito e não estar completamente no pacote do que é previsível, é o mais importante”.