O Rock in Rio Lisboa era melhor na Bela Vista ou está bem no Parque Tejo?
Rock in Rio Lisboa
Rita Carmo
160 mil pessoas divididas por dois dias (números comunicados pela organização) é obra e pode gerar o caos, principalmente quando se fala de um festival feito a pensar nas famílias e que este ano tem um recinto diferente. O Parque Tejo parece colher simpatia, mas há queixas prementes: menos sombras, menos relva, e “muita gente em todo o lado”, o que faz com que assistir em boas condições a alguns concertos se torne um desafio inesperado
Para a edição que comemora os seus 20 anos de existência, o Rock In Rio Lisboa mudou-se de armas e bagagens para o Parque Tejo, deixando para trás o Parque da Bela Vista onde morou ao longo de dez edições. A “cidade do rock”, já o escrevemos, está diferente; as ruas são mais amplas, as “casas” - i.e., os stands das mais variadas marcas - ocupam todos os metros quadrados que podem. Vimos filas para comer, beber e ir à casa de banho, comuns aos festivais urbanos mais populosos, mas como também tivemos dificuldades em ver, efectivamente, o palco do concerto dos Scorpions lá muito ao longe. No primeiro fim de semana, pela força de nomes como os alemães ou Ed Sheeran, cabeças de cartaz de sábado e domingo respetivamente, o festival esgotou: por aqui, segundo números comunicados pela organização, passaram cerca de 80 mil pessoas em cada dia. Falámos com alguns visitantes do Parque Tejo ao segundo dia da edição de 2024 do festival. O novo recinto parece colher simpatia, mas há queixas.
Rock in Rio Lisboa
Rita Carmo
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Dentro deste mar de gente há festivaleiros satisfeitos. É o caso de Marco Pinto, que está no Rock In Rio Lisboa pela quarta vez. O espaço, diz-nos, “é muito maior; anda-se mais à vontade, as coisas estão mais dispersas”. “Fui aos primeiros, e a diferença é enorme”, salienta. Mesmo no acesso, feito em dois pontos: um para a revista, outro para a picagem do bilhete. “Super rápido”, conta.
Rock in Rio Lisboa: Marco Pinto
Rita Carmo
“O espaço é lindíssimo e muito bem organizado”
Ana Rodrigues, acompanhada pela família, concorda. Chegou ao recinto pelas 16h, nesta que é a sua segunda vez no Rock In Rio Lisboa. Nota a “distinção de entrada”, entre festivaleiros com mochilas e festivaleiros sem nada acoplado às costas. “A fila foi muito pacífica, até agora tudo bem”, diz. Ana esteve nas Jornadas Mundiais da Juventude, em 2023, pelo que sabia mais ou menos o que esta nova casa gasta. “Estou na expetativa que chegue a noite” para perceber se há dificuldades, explica. “Já me alertaram que faz muito vento, vim preparada com mais casacos e coisas que na última vez que vim” ao festival. “Mesmo a questão da visibilidade” para o Palco Mundo, alvo de várias queixas na noite anterior, é algo que ainda tentaria perceber.
Rock in Rio Lisboa: Ana Rodrigues (ao centro)
Rita Carmo
Elisabete Silva foi “apanhada” pela BLITZ a sair da casa de banho. A fila parecia considerável - o normal para um festival de música - mas esta estreante no Rock In Rio Lisboa garante que é apenas fogo de vista. “Espera-se um bocadinho, mas não é por aí além”, diz. Elisabete está maravilhada com o que encontrou: “O espaço está lindíssimo, muito bem organizado”, atira. Ainda não teve a oportunidade de matar o bicho nas bancas de alimentação e bebida, mas considera que “não está assim tanta confusão”. “O mais problemático foi mesmo na casa de banho”, e mesmo aí só esperou “para aí dez minutinhos”. “Para a quantidade de gente [que está] não achei assim tão mau”. As casas de banho, garante, “estão muito limpinhas, há pessoas a dar papel higiénico e a organizar” a entrada. O festival merece por isso nota máxima: “cinco estrelas”.
Rock in Rio Lisboa: Elisabete Silva
Rita Carmo
“Demasiada gente em todo o lado”
Fabiana Fortunato é a primeira inquirida com algumas, ligeiras, queixas. É a sua segunda vez no Rock In Rio Lisboa; em comparação com o Parque da Bela Vista, considera que o Parque Tejo “tem menos sombras e menos relva”. “É um problema”, admite. As filas para a alimentação também lhe parecem “maiores que na outra edição” a que foi. A entrada para o recinto “correu bem”, apesar de a caminhada ter sido maior que a esperada. “Comprámos bilhete para o shuttle, mas a fila era tão grande que viemos a pé do Oriente”, lamenta. “Era mesmo muito, muito grande”.
Rock in Rio Lisboa: Fabiana Fortunato (à dir.)
Rita Carmo
Helena Paulino, vinda de Setúbal, com bilhete para hoje “oferecido pelo filhote”, não teve esse problema. “Deixámos o carro em Moscavide, ao pé do Lidl. Viemos [o resto] de Uber”, conta. E para estacionar? “Um bocadinho de problema”.
Rock in Rio Lisboa: Helena Paulino
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Telmo Vieira esteve na noite anterior, a dos Scorpions, Europe e Extreme, e pinta um retrato diferente. As dificuldades para comer “foram muitas”. “É completamente impossível comer quando estás numa fila pelo menos 30 minutos - e estou a ser meiguinho”, diz. “Para beber era horrível, mas havia sempre um cantinho onde era mais fácil”. Já as casas de banho estavam a funcionar na perfeição: “Nunca estive à espera, era sempre a entrar”, garante - admitindo que o mesmo não se aplicava às das mulheres. Sobre as tendas das marcas, não percebe “como é que as pessoas gastam tanto do seu tempo nas filas. Eram maiores que as da comida”, diz. Ainda conseguiu ver os Extreme perto do palco, mas os Scorpions foi tarefa humanamente impossível. “Estava uma enchente muito grande. Tive obrigatoriamente de ficar cá atrás. Muita gente em pouco espaço. Senti sempre que havia demasiada gente em todo o lado”. Este domingo, veio acompanhado por Soraia, sua esposa, grávida do segundo filho. “Entrámos e fomos diretos ao balcão de acessibilidade, que é logo a uns 30 metros. Deram-nos pulseiras e explicaram tudo muito bem”, conta. Ambos esperam que, ao segundo dia, a experiência seja melhor.