Discursando na conferência de alto nível sobre "Um ano após o Relatório Draghi" sobre a competitividade da União Europeia (UE), Draghi referiu que "o acordo Mercosul com a América Latina [Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai] pode oferecer algum alívio aos exportadores".
Considerando que "a Europa começou a reagir" face à concorrência dos EUA e da China, quer com acordos comerciais, quer com novos projetos estratégicos para minerais críticos, o também antigo primeiro-ministro italiano sublinhou, no entanto, que a diversificação para fora do mercado norte-americano "é irrealista a curto prazo".
Os Estados Unidos, lembrou, "absorvem cerca de três quartos do défice global da balança de transações correntes".
A China, por outro lado, tornou-se "um concorrente ainda mais forte, tanto em mercados terceiros como, à medida que as pautas aduaneiras dos EUA desviam os fluxos, no interior do mercado interno" da UE.
"Desde dezembro do ano passado, o excedente comercial da China com a UE aumentou quase 20%", lembrou Draghi.
O antigo líder do BCE destacou ainda que a capacidade de reação da Europa é limitada pelas suas dependências, "mesmo quando o nosso peso económico é considerável".
Draghi critica inércia da UE e pede mais competitividade
Mário Draghi também criticou hoje a lentidão e inércia da União Europeia no que respeita à competitividade, apelando a uma nova dinâmica para que sejam obtidos resultados "em meses, não anos".
"As empresas e os cidadãos [...] manifestam uma frustração crescente, estão desiludidos com a lentidão com que a UE atua", referiu Draghi, intervindo numa conferência de alto nível para analisar o progresso da Comissão Europeia na implementação das recomendações estabelecidas no relatório por ele elaborado há um ano.
O antigo presidente do Banco Central Europeu (BCE) sublinhou a necessidade que a UE tem de seguir um caminho diferente, que exige "uma nova velocidade, escala e intensidade", "obtendo resultados em meses, não em anos".
Defendendo que a opção por uma nova via de competitividade significa que os Estados-membros devem "atuar em conjunto e não fragmentar os esforços" e "concentrar os recursos onde o impacto é maior".
"Por vezes a inércia é mesmo apresentada como respeito pelo Estado de direito", considerou, acrescentando que "isso é complacência".
Referindo-se às dinâmicas dos Estados Unidos e da China, os maiores concorrentes da UE, Draghi lembrou que são menos constrangidos e considerou que se a UE não alterar o seu percurso, terá de se resignar a ficar para trás.
Lembrando que um ano depois de ter apresentado o seu relatório sobre a competitividade da UE o bloco está "numa situação mais difícil", Mário Draghi sentenciou que o modelo de crescimento europeu está a desvanecer-se.
"A inação ameaça não só a nossa competitividade, mas também a nossa própria soberania", acrescentou.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt