Economia

Draghi antecipa "alívio aos exportadores" com acordo UE-Mercosul e critica inércia europeia

O antigo presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi
O antigo presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi
GUGLIELMO MANGIAPANE

Ex-presidente do Banco Central Europeu analisou o acordo do bloco com o Mercosul, que pode auxiliar a economia europeia face às tarifas impostas por Donald Trump

O ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE) Mario Draghi considerou hoje que o acordo com o Mercosul pode aliviar os exportadores europeus face às tarifas aduaneiras de 15% impostas pelos Estados Unidos.

Discursando na conferência de alto nível sobre "Um ano após o Relatório Draghi" sobre a competitividade da União Europeia (UE), Draghi referiu que "o acordo Mercosul com a América Latina [Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai] pode oferecer algum alívio aos exportadores".

Considerando que "a Europa começou a reagir" face à concorrência dos EUA e da China, quer com acordos comerciais, quer com novos projetos estratégicos para minerais críticos, o também antigo primeiro-ministro italiano sublinhou, no entanto, que a diversificação para fora do mercado norte-americano "é irrealista a curto prazo".

Os Estados Unidos, lembrou, "absorvem cerca de três quartos do défice global da balança de transações correntes".

A China, por outro lado, tornou-se "um concorrente ainda mais forte, tanto em mercados terceiros como, à medida que as pautas aduaneiras dos EUA desviam os fluxos, no interior do mercado interno" da UE.

"Desde dezembro do ano passado, o excedente comercial da China com a UE aumentou quase 20%", lembrou Draghi.

O antigo líder do BCE destacou ainda que a capacidade de reação da Europa é limitada pelas suas dependências, "mesmo quando o nosso peso económico é considerável".

Draghi critica inércia da UE e pede mais competitividade

Mário Draghi também criticou hoje a lentidão e inércia da União Europeia no que respeita à competitividade, apelando a uma nova dinâmica para que sejam obtidos resultados "em meses, não anos".

"As empresas e os cidadãos [...] manifestam uma frustração crescente, estão desiludidos com a lentidão com que a UE atua", referiu Draghi, intervindo numa conferência de alto nível para analisar o progresso da Comissão Europeia na implementação das recomendações estabelecidas no relatório por ele elaborado há um ano.

O antigo presidente do Banco Central Europeu (BCE) sublinhou a necessidade que a UE tem de seguir um caminho diferente, que exige "uma nova velocidade, escala e intensidade", "obtendo resultados em meses, não em anos".

Defendendo que a opção por uma nova via de competitividade significa que os Estados-membros devem "atuar em conjunto e não fragmentar os esforços" e "concentrar os recursos onde o impacto é maior".

"Por vezes a inércia é mesmo apresentada como respeito pelo Estado de direito", considerou, acrescentando que "isso é complacência".

Referindo-se às dinâmicas dos Estados Unidos e da China, os maiores concorrentes da UE, Draghi lembrou que são menos constrangidos e considerou que se a UE não alterar o seu percurso, terá de se resignar a ficar para trás.

Lembrando que um ano depois de ter apresentado o seu relatório sobre a competitividade da UE o bloco está "numa situação mais difícil", Mário Draghi sentenciou que o modelo de crescimento europeu está a desvanecer-se.

"A inação ameaça não só a nossa competitividade, mas também a nossa própria soberania", acrescentou.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate