ARQUIVO 10 perguntas a... por Inês Meneses
Ana Padrão: “Temos medo da desilusão”
Atriz. Uma das protagonistas de “Linhas Tortas”, o novo filme de Rita Nunes, que acaba de se estrear nos cinemas
ARQUIVO 10 perguntas a... por Inês Meneses
Atriz. Uma das protagonistas de “Linhas Tortas”, o novo filme de Rita Nunes, que acaba de se estrear nos cinemas
Fomos nós que permitimos que as redes sociais limitassem a nossa vida?
Os limites somos nós que os definimos.
Eu, por exemplo, permito-me não usar as redes sociais e às vezes sinto que isso me pode limitar.
Como gere a sua exposição?
Pertenço a uma geração em que um ator não tinha a necessidade de, ao promover o seu trabalho, ter de expor a sua vida pessoal. Como atriz, não vejo qualquer vantagem em revelar a minha vida pessoal, penso até que isso pode condicionar os espectadores. Hoje, a linha que separa os atores e a respetiva vida pessoal da vida ficcional é muito ténue. Espera-se que o ator publicite e promova o seu trabalho e a si próprio através da exposição e fusão total das suas vidas (profissional e ficcional). A privacidade e intimidade de um ator é um local seguro e fundamental na construção das personagens que são a sua exposição.
A ideia do amor romântico diluiu-se na internet?
Ainda crescemos com os contos de fadas. O amor foi, desde sempre, altamente idealizado. Acredito que a internet só intensificou esta idealização do que é ou deve ser o amor. Tal como o tem feito com o conceito de felicidade.
Podemos construir um percurso em cima de um equívoco (como acontece no filme “Linhas Tortas”)?
Podemos. Mas também podemos escolher não o fazer.
É o cinema que faz sentido na sua carreira?
Não é uma questão de fazer ou não sentido. Faço, como qualquer ator, cinema, televisão e teatro. O facto de falar línguas permitiu-me ter mais trabalho em cinema.
Um telefilme como “Amo-te Teresa” (do qual foi também protagonista) continuaria a ser fraturante em 2019?
Haverá sempre amores proibidos e finais felizes.
A sociedade continua a punir mais as mulheres?
Sim, embora seja mais difícil reconhecermos a desigualdade de género dentro da nossa própria cultura, uma vez que somos condicionados pela mesma, ela continua a existir e está sempre presente. Seja em forma da desigualdade salarial, violência doméstica, cultura de violação, mutilação genética ou restrição da liberdade. Foi feito um estudo, encomendado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e divulgado há pouco tempo com o título ”As mulheres em Portugal hoje”, que acho revelador da realidade portuguesa. “Elas ganham menos do que os companheiros, pagam metade das despesas e estão quase sozinhas a fazer as tarefas de casa e dos filhos. É um negócio que não faz sentido.”
O amor (como diria Julian Barnes) nunca é absurdo?
Nunca!
Andamos a boicotá-lo porque temos medo de o viver?
Temos medo da desilusão.
A beleza dá-nos muitas certezas?
“Belo é tudo quanto agrada desinteressadamente”, segundo Kant.
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