Nuno Gama: “As regras do mercado são demasiado violentas”

Tem sido um longo caminho para que os homens mudem as calças cinzentas e o pullover azul… Porque demorámos tanto?
Porque implica mudar a mentalidade sem estar condicionada pela avaliação de terceiros.

Este já não é o tempo em que a masculinidade abane com a preocupação (e o arrojo) de vestir?
Quanto mais a sociedade avança em determinada direção, mais diferenciação cria por reação. As regras do mercado, hoje, são demasiado violentas: ou exibes uma boa condição ou não dás cartas.

Lembra-se da primeira vez que vestiu algo mais ousado?
Claro, o início das primeiras vendas.

A autoconfiança talvez seja o fato mais bonito e difícil de conseguir. Como a cultivamos?
Com a valorização dos outros logo de pequeninos. Na confirmação da aceitação dos que nos são queridos. Temos de nos aceitar para sabermos valorizar o que temos e como investir no melhoramento do nosso self, na consciência de que somos muito melhores do que na maioria das vezes julgamos, pois sobrevalorizamos o defeito em prol das nossas qualidades e são essas que têm de ser exponenciadas, ao mesmo tempo que reciclamos as outras e seguramos o ego.

O carisma está muito para lá da beleza?
É a forma diferenciada como nos entregamos, iluminando os outros com a nossa disponibilidade compartilhada de um sorriso de braços abertos à vida.

Consegue dar-me o exemplo de alguém carismático que gostasse de vestir?
Michael Fassbender.

Estamos a aprender a lidar com a idade?
Cada segundo que vivemos acrescenta experiência à nossa vida, o que, aos olhos do copo meio cheio, só melhorará as nossas capacidades até ao dia em que ternamente se despedem de nós numa boa história.

O mundo da moda continua com regras (e medidas) demasiado apertadas?
O mundo, independente das suas profissões, é feito de pessoas que mudam velozmente. Sedentários que somos, temos dificuldade em perceber/aceitar a mudança, pois essa é a antítese para que nos preparam a vida toda e talvez a grande responsável pela velocidade da 1ª pergunta.

Que imagem lhe vem à cabeça quando pensa em moda?
Um sorriso bonito, feliz, e de bem com a vida.

Em que é que acreditou de cada vez que a vida se virou do avesso?
Em mim quando reencontrei o legado com que fui abençoado.