Ator, dramaturgo, encenador. Diretor do Teatro Nacional D. Maria II desde dezembro de 2014. Foi há dias condecorado com as insígnias da Ordem das Artes e Letras de França, no grau de cavaleiro
Para lá do lado institucional, o que lhe trouxe (pessoalmente) a condecoração? Ver as pessoas que mais amo expressarem o seu orgulho foi o melhor antídoto para o embaraço que sempre sinto ao ser alvo de qualquer distinção.
O reconhecimento que vem de fora tem outro sabor? Tem um sabor mais coletivo. O reconhecimento internacional do meu trabalho é, nitidamente, um reconhecimento do teatro português e dos seus profissionais, que merecem muito mais atenção e apoio do que aquele que têm recebido dentro e fora do país.
Como se dá a volta a uma estrutura cheia de ‘recantos’ complexos? A minha experiência nos últimos anos com a extraordinária equipa do D. Maria II ensinou-me que os recantos complexos não são um problema se quem os habita partilhar a paixão pelo que faz.
Vivemos tempos volúveis. Ir ficando parece um risco? Os tempos volúveis vivem-se melhor quando as paixões são profundas, radicais e duradouras.
Conseguiu integrar o seu humor num cargo que o obriga a inúmeras responsabilidades? Não são inúmeras. São duas ou três responsabilidades, no máximo. Em número bastante menor de que as irresponsabilidades que o cargo me exige.
Deixar gente de fora, em alguns casos, angustia-o? A programação de um teatro é feita de escolhas e o poder de escolher é uma responsabilidade que aceitei. No entanto, no teatro português há mais espetáculos com qualidade e pertinência para estarem num teatro nacional do que aqueles que o tempo e o orçamento permitem. O mais difícil é dizer “não” a esses projetos, sobretudo porque vivemos num país onde deveria haver muitos mais teatros capazes de dizer “sim”.
Nunca tem saudades de uma certa marginalidade? A minha marginalidade acompanha-me para todo o lado, até mesmo para os salões nobres.
A liberdade também se encontra nos sítios mais formatados? Acho que a liberdade, na maior parte dos casos, não se encontra: conquista-se. Nos sítios mais formatados, é ainda mais importante conquistá-la.
Consegue escolher um ator que fez de si melhor? Um só não consigo. São muitas atrizes e muitos atores. Um dia inteiro não chegaria para dizer os seus nomes.
Para onde foge quando quer escapar ao mundo real? Um marginal nunca revela os seus esconderijos.