ARQUIVO 10 perguntas a... por Inês Meneses

Tiago Rodrigues: “A liberdade conquista-se”

Ator, dramaturgo, encenador. Diretor do Teatro Nacional D. Maria II desde dezembro de 2014. Foi há dias condecorado com as insígnias da Ordem das Artes e Letras de França, no grau de cavaleiro

filipe ferreira

Para lá do lado institucional, o que lhe trouxe (pessoalmente) a condecoração?
Ver as pessoas que mais amo expressarem o seu orgulho foi o melhor antídoto para o embaraço que sempre sinto ao ser alvo de qualquer distinção.

O reconhecimento que vem de fora tem outro sabor?
Tem um sabor mais coletivo. O reconhecimento internacional do meu trabalho é, nitidamente, um reconhecimento do teatro português e dos seus profissionais, que merecem muito mais atenção e apoio do que aquele que têm recebido dentro e fora do país.

Como se dá a volta a uma estrutura cheia de ‘recantos’ complexos?
A minha experiência nos últimos anos com a extraordinária equipa do D. Maria II ensinou-me que os recantos complexos não são um problema se quem os habita partilhar a paixão pelo que faz.

Vivemos tempos volúveis. Ir ficando parece um risco?
Os tempos volúveis vivem-se melhor quando as paixões são profundas, radicais e duradouras.

Conseguiu integrar o seu humor num cargo que o obriga a inúmeras responsabilidades?
Não são inúmeras. São duas ou três responsabilidades, no máximo. Em número bastante menor de que as irresponsabilidades que o cargo me exige.

Deixar gente de fora, em alguns casos, angustia-o?
A programação de um teatro é feita de escolhas e o poder de escolher é uma responsabilidade que aceitei. No entanto, no teatro português há mais espetáculos com qualidade e pertinência para estarem num teatro nacional do que aqueles que o tempo e o orçamento permitem. O mais difícil é dizer “não” a esses projetos, sobretudo porque vivemos num país onde deveria haver muitos mais teatros capazes de dizer “sim”.

Nunca tem saudades de uma certa marginalidade?
A minha marginalidade acompanha-me para todo o lado, até mesmo para os salões nobres.

A liberdade também se encontra nos sítios mais formatados?
Acho que a liberdade, na maior parte dos casos, não se encontra: conquista-se. Nos sítios mais formatados, é ainda mais importante conquistá-la.

Consegue escolher um ator que fez de si melhor?
Um só não consigo. São muitas atrizes e muitos atores. Um dia inteiro não chegaria para dizer os seus nomes.

Para onde foge quando quer escapar ao mundo real?
Um marginal nunca revela os seus esconderijos.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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