“Naquele tempo na Baixa do Porto quase só se viam cabeças no ar. Agora os bancos reduziram para 15%, as companhias de seguros também. Foram saindo daqui centenas que tinham poder de compra e que mantinham as nossas casas de pé porque era pessoal que gostava do bom e podia pagar o bom! Esses desapareceram. Os que aparecem por aqui, vêm ao barato, sem qualidade. Mai nada”.
Alberto Rodrigues, proprietário da Mercearia do Bolhão, no 305 da Rua Formosa, passa os dias na Tabacaria Nicoleto, na porta ao lado. É o dono de uma das casas mais antigas do Porto há 25 anos. Fundada em 1880, era a secção de mercearia da Confeitaria do Bolhão. Se a tabacaria não tem paragem, a mercearia está mais sossegada. “Há 25 anos para nós era muito melhor, fazia-se o triplo do negócio que se faz hoje. Mas quanto é que aumentou o artigo de lá até cá? Evidentemente que ainda tenho o cliente com poderio e sabe distinguir o produto”, diz atrás do balcão, entre carrinhos miniatura, embalagens pasta de dentes, tabaco, isqueiros, jornais e revistas.
“Ó Sr. Alberto dê-me essas duas [raspadinhas] que estão a acabar. Essa com a ponta revirada”.
Todos os sinais da sorte são sinais.
“Tem cautelas?”
Já foram todas vendidas.
“Você é rei”.
Ele ri-se. Ganhar dinheiro é a sua profissão. Despacha a mulher que lhe deixa um euro sobre o balcão.
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