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“Uma pessoa ia para lá às 8h e saía às 17h sem nada para fazer”: os estaleiros de Viana tornaram-se numa “fábrica de nada”

“Uma pessoa ia para lá às 8h e saía às 17h sem nada para fazer”: os estaleiros de Viana tornaram-se numa “fábrica de nada”
Jaime Figueiredo

Durante mais de três anos, o futuro dos trabalhadores da empresa de construção naval pública era incerto: “Eram obrigados a apresentar-se ao trabalho todos os dias e todos os dias ficavam sem fazer nada”, ao ponto de alguns se “fecharem nos balneários a tomar banho durante horas”. Mas quando os estaleiros finalmente encerraram, em 2014, “a cidade foi abaixo”

“Uma pessoa ia para lá às 8h e saía às 17h sem nada para fazer”: os estaleiros de Viana tornaram-se numa “fábrica de nada”

Mara Tribuna

Jornalista

Já passaram quase dez anos desde que os estaleiros navais de Viana do Castelo fecharam portas, mas as feridas ainda não sararam. Era a maior empresa de construção naval do país, empregava mais de 600 trabalhadores, no entanto, aos poucos, foi-se tornando num “género de fábrica de nada”. “Quando a empresa encerrou foi uma situação muito amarga e a própria cidade ficou abalada, foi abaixo”, conta José Esteves que começou a trabalhar nos estaleiros na década de 70, com apenas 14 anos.

Chegaram a ser construídos mais de 200 navios de vários tipos, desde ferry-boats a navios de pesca, e durante quase 70 anos a empresa pública vianense serviu como âncora da cidade. “Em 1984 foi considerada a empresa do ano em todo o país e, em 85, foi a super empresa do ano”, lembra o ex-funcionário, que não compreende porque é que deixou de haver “trabalho, dinheiro e apoios” para os estaleiros.

“Havia pessoas muito dedicadas àquela empresa”, continua Esteves, que teve diferentes funções ao longo das décadas, incluindo traçador-marcador, técnico de manutenção e guindasteiro. “A partir de 2010 os estaleiros começaram a tremer” e, gradualmente, foi deixando de haver trabalho. “Uma pessoa ia para lá às 8h e saía de lá às 17h sem ter nada para fazer”, relata Sebastião Almeida que trabalhava na marinharia, seguindo os passos do seu pai, um dos primeiros funcionários desde a fundação da empresa.

Esta situação prolongou-se durante mais de três anos. “Eu felizmente tinha sempre alguma coisa para fazer, mas também sofri um bocado. Houve colegas meus que sofreram terrorismo psicológico mesmo, até houve tentativas de suicídio, gente com problemas psiquiátricos, e hoje alguns ainda sofrem…”. Foi a espera e o desespero que levaram Marco Martins a fazer um espetáculo sobre os trabalhadores dos estaleiros navais em 2012.

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