Ana Bica está contente. O CENCAL – Centro de Formação Profissional para a Indústria Cerâmica, acaba de receber três impressoras 3D novinhas em folha, prontas a funcionar. A instituição que dirige candidatou-se aos fundos do PRR para aumentar as instalações e modernizar os equipamentos, e assim adaptar a formação às necessidades da indústria. “Daqui a três anos estamos muito esperançosos de que o Cencal seja uma coisa bonita e muito mais moderna”, diz.
Os quatro milhões de euros europeus vão ajudar a operar alterações importantes, mas ainda há um caminho por percorrer. As impressoras estão instaladas numa sala de formação que teve de ser desativada para as acolher enquanto o edifício não é ampliado. O projeto aguarda aprovação da Câmara Municipal. Estes equipamentos vão dar resposta a necessidades da indústria cerâmica (atualmente mais centrada na zona de Alcobaça), que recorre a estes processos para criar modelos de desenvolvimento de produtos. Uma das impressoras 3D de pó de gesso custou 60 mil euros e permite criar peças ou componentes de peças a partir de desenhos ou da digitalização de um modelo. Alguns alunos já começaram a testar as potencialidades desta tecnologia.
Numa região em que a indústria cerâmica deixou e deixa uma marca importante, parece encarar-se o futuro sem esquecer as lições do passado. “A indústria cerâmica aguentou-se bem até à entrada do euro. O euro trouxe desafios de produtividade, custos, competitividade em termos internacionais e é aí que as empresas industriais das Caldas e de Alcobaça ficam numa situação delicada e até 2005 acabam por fechar”, enquadra Pedro Paramos, diretor de formação. “A SECLA era o maior empregador e morreu porque se baseava numa coisa que hoje não existe, que era a produção em grande série. Hoje as casas são mais pequenas, as pessoas não têm tanta loiça. As fábricas para serem rentáveis tinham de ter grande produção e não era possível redimensionar o equipamento para quantidades menores”, explica Ana Bica.
Inaugurado em 1985, o CENCAL prossegue a sua oferta formativa, dando resposta à indústria, não só cerâmica, tendo ali passado em 2022 mais de quatro mil pessoas. O curso de cerâmica criativa ainda é o mais procurado, até a nível internacional, e muitos jovens designers da ESAD procuram complementar aqui a formação. Além disso, a instituição dá formação em outras áreas, da segurança no trabalho ao inglês e informática, respondendo às necessidades que a indústria de todas as áreas vai colocando.
Tem ainda um laboratório onde faz certificação de cerâmica de mesa, especialmente para exportação. Aqui testam-se os vidrados para verificar a presença de componentes tóxicos, avalia-se a resistência à máquina de lavar loiça ou ao micro-ondas. “Tenho orgulho de ver as peças que chegam para análise feitas em Portugal porque é cerâmica de alta qualidade, quer a porcelana, quer a faiança quer o grés”, sublinha a diretora.
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