Os estudantes da cidade são perto de 30% da população do concelho. Entre habitação, alimentação e deslocações gastam cerca de 600 euros por mês, fora a propina. O traje académico é uma das despesas em que não se corta
Há 20 anos que Manuela tira as medidas aos estudantes de Coimbra. Ali está, em frente aos provadores, alfinetando as calças, o colete e a batina de Vítor Moreira, caloiro de Animação Socioeducativa, que vai estrear o traje na Queima das Fitas. O jovem não é grande e é preciso ajustar todas as peças de roupa do traje académico. A funcionária d’ A Toga, loja pioneira no pronto-a-vestir académico, sabe que está a participar em momentos especiais. E também sabe que, daqui a um ano ou dois, muitos deles (e delas) regressam, a maior parte das vezes para mudar botões ou fechos e alargar o que for possível: “saem de casa dos pais, comem mais massas, mais arroz, bebem mais... A maioria engorda mais do que emagrece”.
Por estes dias, todos os caminhos parecem ir dar à Toga. No provador ao lado de Vítor, é Benvinda quem experimenta o seu traje. Abre o pano e surge elegante de saia travada preta e camisa branca. Deixou os chinelos no fundo do provador, calçando agora os sapatos pretos da praxe. Está no segundo ano de Contabilidade e Auditoria e foi trabalhar para o McDonald's para poder comprar o fato. “Este traje é bué importante”, dirá mais tarde, à beira do grande balcão de madeira, onde se escolhem cartolas e emblemas e se amontoa um (outro) fato pronto a entregar. Benvinda não tardaria a formalizar a sua reserva. Está feliz da vida. O traje é importante para pertencer ao grupo.
Vítor saiu à mãe - na estatura e nos sonhos. Afinal foi com ela que o estudante pisou pela primeira vez as lides académicas há cinco anos, quando Catarina Veiga terminou o curso. “Ficou o bichinho”, diz o jovem de 21 anos, barba preta forte e olhar juvenil. Natural de Coimbra, cresceu embebido do espírito académico e foi para o Politécnico seguir os passos da mãe. Ela assiste à prova do traje, com um sorriso estampado nas faces. Este é um momento importante, como um carimbo na vida de estudante de ensino superior em Coimbra. Tão importante que nem o preço do fato o tolda (com os sapatos, custa perto de metade do ordenado mínimo nacional que Catarina recebe): “todo o esforço vale a pena.”
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