Quando se escreve um texto sobre alguém que admiramos — e que por um feliz acaso da vida é também nosso amigo — há várias armadilhas nas quais corremos o risco de cair. São armadilhas que toldam a opinião, e que adoçam o que pode ter sido amargo. São memórias dispersas da amizade que contaminam a opinião profissional que temos de alguém. Não é raro no meio artístico, quando uma pessoa diz que alguém não tem muito talento, a outra contrapor com: “Mas é um tipo tão porreiro.” Ora, acontece que ser porreiro não é um talento artístico. Ser porreiro é uma característica pessoal. A simpatia não acrescenta nem retira talento, mas à boleia disso a opinião pessoal muda a opinião profissional, até ficar um bolo de muitas coisas mas que não sabe a nada. É nisso que pecamos sempre que falamos de um profissional, para o bem e para o mal: avaliamos a pessoa, para depois justificarmos o talento dela. É talvez esta coisa de ser português. Feito que está o aviso, tentarei evitar algumas dessas armadilhas e ser justo, mas se tudo correr bem, cairei intencionalmente noutras tantas. Acredito que no fim será feito o ajuste de contas necessário, e perceber-se-á que a amizade e a admiração, quando se mostram juntas, são das forças mais bonitas que o mundo há de ter.
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