A transição foi abrupta. Houve um tempo antes e um depois, entre esses dias de abril 1974 até ao final do PREC, em novembro de 1975, em que os modelos familiares de uma burguesia citadina alinhada à esquerda e à direita entraram em convulsão. Os pais, ocupados a viver ou a fugir da Revolução, pareciam ter sido atravessados por uma desordem urgente, ausentando-se de casa e transferindo-se para o espaço público, deixando os filhos mais novos entregues a si, aos avós, aos irmãos. Nos meses em que a democracia dava os primeiros passos, ao mesmo tempo que muitos atravessavam o seu rito de passagem entre a infância e o começo da adolescência, a vida foi experimentada com uma liberdade intensa e confusa. É a partir das histórias de Carmo Ribeiro Ferreira, Ângela Luzia e Miguel e Francisco Pereira Bastos, onde se revelam emoções e experiências familiares, que traçamos um retrato desse período que marcou uma geração que ainda não tinha voz.
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