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50 anos do 25 de Abril

25 de Abril: Cândido empunhou a G3 na chaimite, de peito aberto para a liberdade e tornou-se um ícone da Revolução. Esta é a sua história

25 de Abril: Cândido empunhou a G3 na chaimite, de peito aberto para a liberdade e tornou-se um ícone da Revolução. Esta é a sua história
Micaela Neto

Habituámo-nos a vê-lo todos os anos na televisão sem nunca o termos ouvido. Mas é fácil sentirmos a felicidade estampada no rosto na imagem que passa em quase todos os genéricos de programas alusivos ao 25 de Abril: ele, em pé numa chaimite em andamento, de peito aberto, com o braço erguido empunhando a G3. Cândido Tomás, 21 anos, instruendo do Curso de Sargentos Milicianos(CSM), a fazer a especialidade de atirador de cavalaria na escola Prática de Cavalaria de Santarém (EPC) era um dos 240 soldados que saíram na coluna de Salgueiro Maia, na madrugada do dia 25 de Abril de 1974 em direção ao Terreiro do Paço, em Lisboa

Micaela Neto (texto e fotos)

Tinha sido um dia normal de instrução. Oficiais e Sargentos do quadro entraram nas camaratas dos soldados já eles descansavam, com a ordem para que todos formassem na parada em silêncio e levassem com eles todo o material operacional. Já na parada, formados, e em silêncio, Cândido olha para o seu lado, e vê uma grande quantidade de pacotes de munições reais, e ouve Salgueiro Maia proferir a frase que ficou para a História: “Meus camaradas, temos vários tipos de estados, os estados sociais, os estados cooperativos e o estado a que chegámos! E quem quiser ir comigo para Lisboa para acabarmos com o estado a que chegámos sai desta formatura e forma aqui ao lado”

No momento em que tomou lugar na formatura , Cândido foi assaltado por pensamentos contraditórios. Poderia estar a ir longe demais, mas também se sentia com sorte. Sortudo é, aliás, uma palavra que usa várias vezes ao longo da nossa conversa: a sorte de poder estar a viver um momento único com o privilégio de participar num golpe de estado para derrubar o regime.

Um soldado que conheço desde criança

Nasci em Lisboa, meses antes do Verão Quente de 1975 e foi no Meimão, a aldeia dos meus pais, onde passei a maior parte das férias e onde também vivi e estudei nos anos 80.

Cresci a ver na televisão as comemorações do 25 de Abril com as imagens do dia da revolução. O povo na rua, o alvoroço, a alegria, os cravos nas espingardas, os militares nas chaimites, o Capitão Salgueiro Maia ao comando e, sempre ao lado, o Alferes Maia Loureiro com os seus óculos Ray Ban (e que viria a ser camarada do meu pai nas lides militares), as palavras de ordem ao som do megafone, o Largo do Carmo apinhado de gente, os jornalistas ávidos por noticiar e registar o momento histórico.

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