Opinião

O Marquês de Oeiras

O Marquês de Oeiras

Mariana Leitão

Líder parlamentar da IL

Este folhetim dos almoços, elevado a comédia nacional, não é um exemplo isolado; é característico da forma de estar e de gerir de Isaltino Morais: megalómana, despesista e autocrática

Uma das últimas vezes que Isaltino Morais foi questionado sobre a intenção de se candidatar em 2025 ao seu terceiro e, de acordo com a lei, último mandato, foi numa entrevista dada em janeiro deste ano ao Expresso.

"Tudo depende do grau de irritação, pela forma como me tratam daqui para a frente”, respondeu.

Não sei se a recente polémica dos almoços de luxo do executivo municipal de Oeiras provocou irritação suficiente para concretizar essa recandidatura ou se, pelo contrário, o demoveu de avançar.

O que é certo é que este folhetim, elevado a comédia nacional, não é um exemplo isolado; é característico da forma de estar e de gerir do actual presidente da Câmara Municipal de Oeiras (CMO): megalómana, despesista e autocrática.

À frente dos destinos de Oeiras desde 1985, só não governou seis dos últimos 38 anos e nesses seis anos foi sempre substituído pelos seus homens de mão. E nem uma condenação por fraude fiscal e branqueamento de capitais o fez recuar no seu grande desígnio: perpetuar-se à frente do município.

Ainda durante a sua estadia na Carregueira, que o obrigou a suspender o mandato na CMO e o impediu de se candidatar à presidência na eleição seguinte, tentou ser cabeça de lista à Assembleia Municipal. A ligação quase umbilical de Isaltino Morais ao município é tão forte que nem as grades da prisão o impediram de tentar continuar a intervir na gestão do município, mas foi travado pelo Tribunal Constitucional, que rejeitou a sua candidatura, já que se encontrava a cumprir pena efetiva de prisão.

Assim que foi libertado, voltou a concorrer e venceu as eleições. Quatro anos depois ganhou-as novamente, desta feita com maioria absoluta, passando a ficar conhecido pelo slogan “rouba, mas faz”. Os eleitores reconhecem-lhe obra e talvez por isso tenham desculpado os desvios morais e legais que o levaram à prisão.

No entanto, essa confiança é traída inúmeras vezes. Basta assistir às reuniões da Assembleia Municipal para vermos a forma prepotente e arrogante como Isaltino Morais trata todos aqueles que discordam de si, sejam deputados da oposição, sejam munícipes que apresentam as suas preocupações ou reclamações. O desrespeito por todos aqueles que ousam contrariar o presidente, questionar as suas prioridades ou a gestão que faz do município numa qualquer matéria é permanente. Só Isaltino Morais sabe o que é melhor para Oeiras - e que ninguém se atreva a dizer o contrário.

“Às vezes olho para o Marquês de Pombal e pergunto-lhe: ‘Se tivesses uma coisa destas [um projeto] o que fazias?’ E ele diz-me: ‘Faz maior para ser para o futuro, não penses em coisas pequenas’”, foi o que Isaltino Morais afirmou na entrevista ao Expresso a que aludi. Talvez por estar imbuído desse espírito pombalino sinta que está acima do comum dos mortais, permitindo-se fazer uma gestão absolutista, alheada da realidade e usando e abusando do dinheiro dos contribuintes.

Basta perceber quais são as prioridades do executivo para percebermos que há uma gestão ineficiente em que é prioritário fazer um Fórum Municipal, um edifício de mais de 50 milhões de euros, ou um Templo da Água, um faraónico obelisco ou mesmo embelezamentos desnecessários de rotundas com estátuas e obras de dezenas de milhares de euros, assim como estudos e projecos milionários sobre carros voadores e parques para os mesmos, enquanto diversas zonas do concelho continuam ao abandono ou se inundam de cada vez que chove.

Basta circular pelo município para percebermos o flagelo do trânsito automóvel, a falta de oferta de transportes públicos e as assimetrias entre o litoral e o interior, parecendo existir duas realidades distintas no mesmo território, com uma autoestrada a separá-las.

Os almoços de luxo são só mais um exemplo desta gestão megalómana e autocrática. Em que se acha normal e razoável existirem refeições pagas pela CMO a membros do executivo camarário, mesmo que regados a Pêra Manca ou sake afrodisíaco e repletos de marisco. O desplante com que Isaltino Morais responde às críticas é bastante elucidativo: para ele, é tudo normal e vai continuar a fazê-lo. Está nas mãos dos oeirenses deixarem de alimentar o Marquês de Oeiras.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate