O fim de semana são dois dias

Um disco para a rentrée, um livro para compreender outro e bonecos que dizem as verdades

Um disco para a rentrée, um livro para compreender outro e bonecos que dizem as verdades

Lia Pereira

Jornalista

O novo álbum dos portugueses Minta & the Brook Trout, com capa de José Feitor, seu 'cúmplice habitual'

Boa tarde.

Em dia de pesar pela tragédia que ontem assolou Lisboa, trago-lhe algumas sugestões pacatas para um fim de semana sereno.

Setembro é época alta no mundo da música: para os que insistem em lançar discos, e para os que se deleitam a ouvi-los, as próximas semanas trarão boas novas com fartura. Com a delicadeza das folhas que começam a desprender-se das árvores acaba de aterrar “Stretch”, terceiro álbum de Minta & the Brook Trout. De inspiração literária, o nome da banda pode levá-lo a pensar que se trata de um artista gringo, mas estamos perante o projeto de Francisca Cortesão, cantora-compositora nascida no Porto e radicada em Lisboa que, há quase 20 anos, escreve algumas das mais crepitantes canções indie-folk do nosso retângulo. Em inglês, é verdade, mas com uma agilidade apenas comparável ao seu conterrâneo, vizinho de estilo e quase homónimo: Francisco Silva, que durante duas décadas nos ofereceu belíssimos álbuns enquanto Old Jerusalem.

“Stretch”, o disco que pode ficar a conhecer através dos ‘postais’ ‘Please Make Room For Me Please’ ou ‘Cantaloupe’, será apresentado ao vivo mais adiante, neste mês que borbulha de novidades. Já este fim de semana, pode assistir à décima edição do Festival F, enorme montra de música portuguesa, que até domingo leva quase 100 concertos ao Centro Histórico de Faro; rumar às Festas do Mar de Cascais para ver Carminho e Richie Campbell ou sintonizar-se com a música emergente portuguesa no Indie Music Fest, em Baltar, Paredes, por onde passarão o rei de Gaia, David Bruno, os regressados Pontos Negros ou os novatos Bad Tomato.

No cinema, e enquanto não estreia o pungente documentário “Com a Alma Na Mão, Caminha”, construído a partir das conversas por vídeochamada entre a cineasta iraniana Sepideh Farsi e a fotógrafa palestiniana Fatima Hassouna, morta num ataque israelita um dia depois de este filme ser selecionado para Cannes, há outras fitas a merecer atenção. Esta semana, Rui Pedro Tendinha fala-lhe de “O Último Azul”, novo filme do brasileiro Gabriel Mascaro, com quem falou sobre a importância de olhar para o corpo envelhecido e do apelo à insurreição.

Por seu turno, Mário Rui Vieira viu a nova série da RTP, “Felp”, em que bonecos que contracenam com humanos e apontam “um espelho gigante para uma sociedade que parece orgulhosa das suas falhas”.

Despeço-me com mais uma partilha: o livro “Melhor Não Contar”, de Tatiana Salem Levy, que o publicou no ano passado, 17 anos depois do romance de estreia, “A Chave de Casa”. E isto é relevante porquê? Porque acrescenta pistas e peças à narrativa pessoalíssima daquele premiado debute de 2007. Ainda estou a desbravar as primeiras páginas desta obra emprestada por uma boa amiga, mas já posso recomendá-la a todos - e todas - aqueles que compreendem como o nosso corpo pode, muitas vezes, ser um lugar estranho.

Espreite abaixo as sugestões dos meus companheiros do Expresso e da BLITZ e tenha um excelente fim de semana. Vemo-nos na próxima quinta-feira, com novos sons, imagens e histórias.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: LIPereira@blitz.impresa.pt

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