Celeste Caeiro, a mulher que deu os cravos à Revolução: “Está a ver os soldados com os cravos? Fui eu que lhos dei”
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Na quinta-feira 25 de Abril de 1974, quando chegou à porta da cafetaria onde trabalhava, o patrão disse-lhe que, apesar de o restaurante comemorar um ano de funcionamento, não iria abrir. Estava uma revolução a acontecer. Mas, antes de voltarem para casa, foi-lhes pedido para irem ao armazém e levarem as flores compradas para decorar a festa, evitando que se estragassem
Celeste agarrou num molho de cravos vermelhos e apanhou o metro de volta a casa. “Apeei-me no Rossio e vi as Chaimites. Estavam no início da Rua do Carmo, onde antes havia a Tabacaria Caravela e hoje está uma loja de lingerie.” Com um metro e meio de altura, Celeste olhou para o cimo do tanque e perguntou ao militar há quanto tempo é que ali estava.
“Disse-me que era desde madrugada. E pediu-me um cigarro, que eu não tinha, porque nunca fumei. ‘Não tenho um cigarro, mas tenho um cravo’, disse-lhe. Tirei um, dei-lho, e ele pô-lo no cano da espingarda.” Depois distribuiu os cravos por todos, um por um, e seguiu para casa.
Da janela do quarto da pensão, no quinto andar da Calçada do Sacramento, onde nessa altura também vivia com a mãe, Celeste apontou para um tanque. “Está a ver os soldados com os cravos? Fui eu que lhos dei.” Quando chegou ao trabalho no dia seguinte, souberam que tinha sido ela a distribuir as flores — e a partir daí os patrões passaram a dar-lhe folga no 25 de Abril
Recordamos parte de uma reportagem do Expresso de 2018 sobre Celeste Caeiro, a mulher que deu os cravos à revolução
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WEBSTORY: EXPRESSO
TEXTO: RAQUEL ALBUQUERQUE
FOTOGRAFIAS: GETTY IMAGES
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