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Fundação Champalimaud gasta 8 milhões numa parceria com a Philips para baixar para metade emissões de CO2

Fundação Champalimaud gasta 8 milhões numa parceria com a Philips para baixar para metade emissões de CO2
José Fernandes

A Fundação liderada por Leonor Beleza vai mudar os aparelhos de radiologia para reduzir para metade a sua pegada carbónica no espaço de cinco anos. Irá investir oito milhões de euros, mas paga menos se não atingir a meta por culpa da Philips. “A Deloitte vai fazer de árbitro”, explica ao Expresso SER o vice-presidente da Fundação

“Se o setor da saúde fosse um país, seria o quinto maior poluidor do planeta”. A frase é de João Silveira Botelho, vice-presidente da Fundação Champalimaud, e ajuda a explicar a parceira que a instituição vai assinar esta quinta-feira com a empresa de tecnologia Philips, numa cerimónia que vai contar com a presença do primeiro-ministro. Esta parceria vai permitir reduzir em 50% a pegada carbónica dos equipamentos de imagiologia da Fundação.

Afinal, que parceria é esta? “Consiste na alteração e modificação de todos os aparelhos de radiologia que a Fundação tem da Philips, e que são 95% do total dos aparelhos, de modo a que daqui a cinco anos possamos reduzir a emissão de carbono desses aparelhos em 50% em todo o nosso parque de radiologia. Vamos mudar ou modificar os aparelhos através de novas tecnologias que estamos a desenvolver, em conjunto com a Philips, de modo a que haja uma redução das emissões”, resume João Silveira Botelho, vice-presidente da Fundação.

O responsável da instituição portuguesa, que se dedica a fazer investigação em áreas de ponta, explicou ao Expresso SER que a ideia inicial partiu da Fundação Champalimaud que lançou este desafio à empresa tecnológica, que entretanto anunciou há pouco tempo, no congresso de radiologia em Viena, que vai replicar este modelo em todas as unidades de saúde que usam aparelhos com a sua marca.

E quanto é que vai custar esta parceria? João Silveira Botelho disse que será “à volta de oito milhões de euros, mas em termos de equipamentos anda à volta dos 4,5 milhões. O resto é desenvolvimento tecnológico que é feito entre nós e a Philips que tem a ver com grupos de investigação e gadgets que são introduzidos nos aparelhos”. Assegura que as alterações tecnológicas vão aplicar-se à imagiologia e aos exames de medicina nuclear, como os TAC ou as ressonâncias magnéticas, e garante que estas alterações “não vão alterar em nada a qualidade das máquinas e dos diagnósticos, ou seja, isto não é feito à custa de perder aqui alguma qualidade”.

Nesta parceira, também vai entrar a Deloitte como uma espécie de árbitro. A consultora fez medições à atual pegada carbónica da Fundação e voltará a fazê-lo daqui a cinco anos para certificar que realmente houve uma redução de 50% na libertação de gases com efeito de estufa. E caso não seja atingida a meta, isso terá implicações financeiras a nível do negócio que vai ser firmado esta quinta-feira. “A Deloitte fez as contas todas em relação às emissões de carbono hoje e àquelas que nós pretendemos alcançar daqui a cinco anos. O sucesso ou o insucesso no cumprimento desta meta tem implicações financeiras, ora para nós, ora para a Philips, consoante a responsabilidade de não se atingir essa meta seja de um ou de outro. Essa arbitragem é feita pela Deloitte”.

Se chegarem ao final dos cinco anos e não atingirem a meta de redução dos 50%, a Fundação Champalimaud paga menos 2 milhões de euros à Philips caso a responsabilidade tenha sido das máquinas da empresa de tecnologias. Se a culpa for da Fundação, por exemplo, devido ao mau uso das máquinas, a Fundação pagará a totalidade do valor devido à Philips.

João Silveira Botelho, vice-presidente da Fundação Champalimaud.

Saúde polui mais do que aviação

De onde vem a poluição dos aparelhos de radiologia? “Da energia que consomem, do lixo que produzem e dos materiais que utilizam”, explica João Botelho que diz que o setor da saúde e o ambiente têm de estar interligados: “Este setor tem uma grande oportunidade de combater as alterações climáticas, que afetam a saúde humana e impactam drasticamente na vida e nos meios de subsistência de milhões de pessoas em todo o mundo”.

Os sistemas globais de saúde são responsáveis por 4% das emissões globais CO2, mais do que a aviação ou a indústria naval. Para os países mais industrializados esse valor está mais próximo de 10% das emissões nacionais, isto é, mais do que os setores da aviação ou do transporte marítimo.

O vice-presidente da Fundação Champalimaud explica que uma grande parte da poluição no setor da saúde também deriva das companhias farmacêuticas, dos blísteres e dos medicamentos, “não é só dos cuidados hospitalares”. Mas afirma que “não é admissível que a Saúde seja dos setores mais poluentes e que não se tenha feito ainda nada para se tentar de uma forma consistente e alargada reduzir a emissão de CO2”. Com esta nova parceira com a Philips “estamos a tentar despertar um bocadinho as consciências no sentido de não deixar de parte nem a questão da saúde, nem a questão ambiental. Devem andar par a par e não andar desfasadas como hoje estão”.

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