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“O ESG não é para gastar dinheiro, é para ganhar dinheiro”

“O ESG não é para gastar dinheiro, é para ganhar dinheiro”

É uma espécie de think tank da Universidade Católica para os temas da sustentabilidade e negócios responsáveis. O Center for Responsible Business & Leadership produz investigação, eventos e até consultoria para empresas como a Efacec e a Vieira de Almeida. O Expresso SER foi conhecer o Centro e conversou com o diretor, Nuno Moreira da Cruz, e com a sua equipa

O Center for Responsible Business & Leadership (CRB) faz parte da Católica Lisbon, que é a escola de economia e gestão dentro da Universidade Católica Portuguesa. É uma espécie de braço armado da Universidade para a área de “responsible business led by responsible leaders”, ou seja, negócios responsáveis liderados por gestores responsáveis. Foi há quatro anos que o Dean da Catolica Lisbon School of Business & Economics, Filipe Santos, desafiou Nuno Moreira da Cruz a criar o CRB, que hoje conta com uma equipa de dez pessoas dedicadas exclusivamente a estes temas relacionados com a sustentabilidade e liderança responsável.

O diretor executivo do CRB disse ao Expresso SER que desde a criação do centro andam a bater às portas do mundo corporativo a “pregar” a consciência de que o mundo mudou: “É evidente que sem lucros não há preocupações sociais e ambientais, isto temos de ter todos muito claro. Agora, o que é verdade é que sem preocupações sociais e ambientais cada vez vai haver menos lucros. Portanto, esta consciência que o mundo mudou é que nós pregamos”. Nota que as empresas estão agora mais sensíveis a estes temas: “há quatro anos andávamos a empurrar portas fechadas no mercado português, mas hoje em dia as portas já estão entreabertas. Notamos uma diferença enorme nestes quatro anos que andámos a pregar, no princípio no deserto e agora cada vez menos no deserto”.

E o que é que Nuno e a sua equipa andam a pregar junto das empresas? “Temos quatro áreas de atuação. A primeira é tentar que o mundo corporativo entenda que está ali um business case for action, ou seja, isto não é para gastar dinheiro, é para ganhar dinheiro. Temos de ter consciência que não há sobrevivência no futuro se estes temas todos não forem tratados com rigor e com a monitorização que são necessários”, afirma.

A segunda área de atuação do centro passa pela “liderança responsável”, tendo o CRB publicado um estudo sobre este tema em novembro. “A primeira parte do estudo foi dizer: ‘isto é o líder responsável’. A segunda parte será muito mais desafiante que é perguntar: ‘Uma organização, com uma liderança responsável produz, de facto, melhores resultados financeiros?’. É isto que vamos fazer ao longo de 2023”.

A terceira área de atuação do CRB “é incontornável hoje em dia no mundo corporativo, que é entender qual o propósito” e, finalmente, o centro dedica-se à temática dos ODS (objetivos de desenvolvimento sustentável).

Os ODS da Efacec e o propósito da VdA

Para ajudar as empresas a atingir estes propósitos, o Center for Responsible Business & Leadership aposta em quatro eixos: educação, investigação, eventos e consultoria. O diretor do CRB explica que consultoria não é o core business, “mas a verdade é que, com o conhecimento que vamos adquirindo, de vez em quando batem-nos à porta para ajudarmos algumas empresas a fazer algumas coisas destas”.

“Um dos projetos que fizemos foi o projeto de purpose para a Vieira de Almeida (VdA), fizemos os ODS com a Efacec, e este ano vamos arrancar com mais dois ou três. Acompanhámos a Efacec durante 8 meses naquilo que foi a implementação dos ODS”, explica Filipa Pires de Almeida, deputy director do CRB. A Efacec e a BP são dois dos patrocinadores deste centro da Católica.

Qualquer empresa pode pedir uma consultoria ao CRB? “Sim, com uma vantagem e uma desvantagem face às McKinseys deste mundo: somos muito mais baratos, mas levamos muito mais tempo, porque não temos os recursos que eles têm. Se as empresas tiverem tempo, que nos venham bater à porta, nós estamos cá para isso. Mas, deste que seja um destes quatro, – business case for action, purpose, liderança responsável ou ODS, – nós conseguimos ajudar nestes projetos”, garante Nuno Moreira da Cruz.

Nuno Moreira da Cruz, diretor do Center for Responsible Business & Leadership
NC Producoes

O Pacto da Água e o Pacto da Saúde mental

Além de prestar consultoria, a outra área que aproxima a Católica das empresas são as parcerias. “O nosso ODS é o ODS 17, que é um ODS em que acreditamos muito, que é estimular parcerias. Achamos que temos a obrigação, enquanto Católica Lisbon, pelos contactos e conhecimentos que temos, de catalisar várias forças da sociedade para tratar de temas importantes. O que fazemos? Identificamos um tema que tem de ser mainstream na agenda corporativa, fazemos uma investigação, uma conferência, e essa conferência termina com uma call to action, e convidamos as empresas a associarem-se à volta de um pacto”.

O primeiro pacto feito pelo CRB foi o Pacto da Água: “Identificámos a água, fizemos uma nota de investigação sobre os grandes problemas que a água tem em Portugal, criámos uma cimeira da água e terminámos com uma call to action que basicamente é dizer que ‘o tempo de agir é agora’. Juntámos 35 empresas que estão à volta deste pacto, a dinamizar várias coisas, sobretudo para criar a consciência do problema da água em Portugal. E estamos a falar desde a Gulbenkian, o LNEC, que não são empresas, mas depois temos o grupo Esporão, temos a Veolia, a Microsoft. São 35 grandes empresas que têm alguma coisa a ver com o problema da água”.

Depois do tema da água, o centro escolheu um modelo exatamente igual para o tema da saúde mental. “Identificámos a Saúde Mental como um tema importante no mundo corporativo, fizemos uma investigação sobre o estado da arte da saúde mental em Portugal, lançámos uma nota de investigação, fizemos uma cimeira em julho do ano passado com 400 participantes, e terminámos também com uma call to action e, neste momento, temos cerca de 35 empresas que já aderiram”, resume o diretor do CRB.

O Observatório ODS

Outro dos projetos que liga o centro às empresas é o Observatório ODS cujos primeiros resultados foram publicados em outubro. Este Observatório foi feito em parceira com a Fundação BPI “la Caixa” e a Fundação Francisco Manuel dos Santos. “Numa primeira fase quisemos saber como é que as empresas estão a implementar esta agenda. Este foi o primeiro de pelo menos quatro anos em que vamos continuar a estudar”, explicou Filipa Pires de Almeida.

Mafalda Sarmento, um dos elementos da equipa do CRB que está mais dedicado ao Observatório, explica que o projeto também prevê a capacitação das empresas. “Neste segundo ano vamos dizer às empresas: ‘estivemos a analisar-vos, vocês estão a fazer muito bem aqui e aqui podem melhorar’. E uma das formações que estamos a pensar lançar este ano é precisamente para as empresas do Observatório, para ajudá-las a avançar mais nesta agenda”.

“A ideia do Observatório é sempre investigação, ou seja, a base é académica, mas visa ter impacto efetivo, daí esta dialética com as empresas e o mundo corporativo para realmente ter um impacto efetivo”, complementa Angela Lucas, consultora neste projeto da Católica.

Católica-Lisbon
D.R.

As cadeiras “sustentáveis” na Católica

Estando dentro da Católica Lisbon, uma das missões core do CRB, além da investigação, dos eventos e da consultoria, é naturalmente a parte do ensino relacionado com estas áreas de ODS e ESG (sigla inglesa para ambiente, responsabilidade social e governança).

Filipa Pires de Almeida destaca, a nível da licenciatura, algumas cadeiras como o “corporate social responsibility” e o “business ethics”. Nuno Moreira da Cruz revela também que a escola lançou as cadeiras ODS, transversais a toda a universidade e diz que é algo inovador: “Temos várias faculdades a dar. Começámos com o ODS 13 sobre alterações climáticas, e o que fizemos foi juntar quatro faculdades diferentes – Economia, Direito, Sociologia e Biotecnologia, – para ter alunos de todas as universidades, de todo o país e é online. É a única cadeira que extravasa a Católica Lisbon”.

Na parte dos mestrados, Filipa Pires de Almeida afirma que a escola tem a cadeira do “responsible business”, que é optativa, e “no MBA temos um módulo que é o Creating Shared Value, em parceria com a Nova SBE”. Finalmente, a nível da formação executiva, a deputy director do CRB refere que o curso bandeira do centro é o “Responsible Business as a Strategy”, o primeiro curso que lançaram quando o centro começou a existir, tendo depois criado o “Purpose Driven Business”, “um curso que depois deu origem à tal consultoria que fizemos com a VdA e que vamos fazer com outras empresas”.

O centro também criou uma rede que se chama “Responsible Business Champions”, que junta todos os alumni (antigos alunos) que passam pela formação executiva, que têm cargos seniores nas empresas e que estão atentos aos temas da sustentabilidade.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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