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Portugueses culpam alterações climáticas pelo aumento do preço da alimentação

Portugueses culpam alterações climáticas pelo aumento do preço da alimentação
ANTÓNIO PEDRO FERREIRA

A multinacional GlobeScan fez inquéritos em 31 países e chegou à conclusão que os portugueses são os segundos neste universo que mais relacionam as alterações climáticas com a subida do preço da alimentação. Neste estudo, a geração dos baby boomers aparece como estando mais ativamente envolvida na proteção do ambiente. A geração Z nem tanto

Como foi afetado pelas alterações climáticas? Esta é uma das perguntas do inquérito que a GlobeScan realizou em 31 países e que faz parte do relatório “Healthy & Sustainable Living 2022” publicado esta quinta-feira. Em Portugal foram inquiridos mil cidadãos e os resultados mostram que somos o segundo país neste universo de 31 que mais associa o aumento de preços dos alimentos às alterações climáticas.

À pergunta “como foi afetado pelas alterações climáticas?”, 75% dos portugueses escolheram a opção “calor extremo”, e 73% escolheram o “aumento de preços dos alimentos” (os inquiridos puderem escolher mais do que uma opção). A seca, os fogos florestais e as doenças são outras das consequências das alterações climáticas.

“A maioria dos que experienciou eventos relacionados com as alterações climáticas afirma que existe uma forte relação entre estas e o aumento de preços dos alimentos”, escrevem os autores deste estudo, que em Portugal contou com a colaboração da Greenlab, uma consultora que atua na área da sustentabilidade. Entre os 31 países analisados, apenas o Quénia ultrapassa Portugal nesta associação entre as alterações climáticas e a subida dos preços da alimentação.

Este inquérito, realizado entre junho e julho de 2022, acontece num ano em que a inflação em Portugal disparou para 7,8% (a média anual), impulsionada sobretudo pela escalada dos produtos energéticos (que registaram uma subida homóloga de 20,9%) e dos preços dos bens alimentares transformados (17,5%) e não transformados (17,6%). A guerra na Ucrânia foi a principal responsável por puxar a inflação para um máximo de 30 anos.

Aliás, neste inquérito, a guerra (87%) e a pobreza extrema (85%) surgem como as duas maiores preocupações dos portugueses. No ranking sobre a percepção dos problemas globais, também dominam os temas relacionados com o ambiente, nomeadamente: alterações climáticas/aquecimento global (82%), esgotamento de recursos naturais (82%), poluição das águas (81%) e escassez de água potável (78%).

Geração dos baby boomers mais ativa

E o que fazer perante os problemas ambientais? “A consciência ambiental permanece em níveis altos. No entanto, as pessoas afirmam cada vez mais que os esforços individuais para salvar o meio ambiente não são suficientes. Quase 50% dos portugueses inquiridos afirma que, individualmente, não se consegue salvar o meio ambiente”, escrevem os autores deste estudo.

Em geral, todas as gerações “desejam reduzir o seu impacto no planeta”, mas “a geração Z é aquela em que a probabilidade de aderir a atitudes ambientais positivas é menor, enquanto a geração dos baby boomers está mais ativamente envolvida na proteção do ambiente”.

Por exemplo, 83% dos baby boomers querem reduzir o impacto que têm pessoalmente no ambiente, contra 82% da geração X e dos Millennials, níveis mais elevados do que os 74% contabilizados na geração Z. Talvez por isso, os mais novos da geração Z são os que se sentem mais culpados pelo impacto que têm no ambiente (50%), muita acima dos 29% dos baby boomers.

Os baby boomers são aqueles que nasceram entre 1945 e 1964, a geração X compreende os nascidos entre 1965 e 1981, os millennials entre 1982 e 1994 e a geração Z ou pós-millenial são os nascidos depois de 1995 até ao início de 2010.

“Quando nos referimos a um estilo de vida amigo do ambiente e saudável, denota-se um ligeiro aumento nas intenções de mudança, mas o mesmo não acontece nas mudanças efetivas. O fosso alargado entre vontade e ação também persiste”, concluem os autores do “Healthy & Sustainable Living 2022”. O gap entre “desejo-ação”, – ou seja, o diferencial entre a vontade de adotar um estilo de vida mais amigo do ambiente e o que fazemos realmente para mudar, – é comum a todos os países. “No entanto, este gap é maior em países como o Quénia, a Colômbia, o México e a Tailândia, inclusive em Portugal”. Em Portugal, este gap na adoção de um estilo de vida sustentável “é maior nos idosos, nas mulheres e naqueles com menor poder de compra”.

Poucos vegans e vegetarianos

Este inquérito da GlobeScan também questiona os portugueses sobre o seu dia a dia e o que fazem para melhorar o ambiente. “Uso o meu próprio saco de compras”, é a opção mais escolhida, por 86% dos inquiridos. “Reciclo” (76%), “poupo em refrigeração/aquecimento” (76%), “desligo a água para aplicar detergente” (75%) e “como comida saudável” (69%) são outras ações que os portugueses dizem fazer no seu dia a dia. Do lado oposto da tabela, apenas 17% dos inquiridos optam por comida vegetariana ou vegan (abaixo dos 22% da média dos restantes 30 países analisados) e apenas 19% costuma partilhar produtos com outras pessoas da comunidade. Face ao inquérito do ano anterior, a “lavagem da loiça/roupa em água fria” foi a opção que registou o maior aumento, tendo esta opção sido escolhida em 2022 por 54% das pessoas inquiridas.

Portugueses críticos com as empresas

Outras das conclusões deste estudo é que os portugueses “são mais críticos do que a média global no que diz respeito ao comportamento das grandes empresas no auxílio à adoção de comportamentos mais amigos do ambiente”, sendo que “a geração Z é a mais crítica”.

24% dos portugueses considera que o desempenho das empresas na adoção de estilos de vida sustentáveis é bom, 42% afirmam que é satisfatório e 34% dizem que é mau. Outra das conclusões deste relatório é que 66% das pessoas em Portugal concorda que é demasiado complicado compreender as iniciativas das empresas em torno da responsabilidade ambiental.

E os portugueses, no papel de consumidores, tendem a premiar as empresas vistas como socialmente responsáveis. “Quanto mais velhos são os consumidores, maior é a probabilidade de premiarem as empresas responsáveis. Os baby boomers são a geração que mais o faz, e a geração Z aquela que mais o considera fazer”, lê-se nas conclusões deste estudo.

Os consumidores também tendem a acreditar que produtos amigos do ambiente são mais caros, especialmente automóveis e comida/bebidas embaladas. Mas, por outro lado, acreditam que os produtos amigos do ambiente têm um desempenho melhor do que os produtos correntes ou, pelo menos, idêntico.

E que tipo de produto amigo do ambiente costuma comprar? As opções mais escolhidas pelos portugueses para responder a esta pergunta foram “comida fresca” (26%), “produtos de limpeza” (23%), “produtos de cuidado pessoal” (17%), “comida embalada” (10%) e “peça de vestuário” (6%). E como é que sabemos que estes produtos são ambientalmente responsáveis? Os portugueses olham sobretudo para a certificação do produto, para as embalagens e materiais com que são feitos e ainda para a loja que o vende e a marca.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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