A Euronext, -- plataforma que junta bolsas como a de Paris, Lisboa, Dublin ou Amesterdão, -- já era o mercado líder na Europa na emissão de dívida ESG (sigla inglesa para Environmental, Social and Governance), mas em dezembro ganhou o estatuto de maior bolsa do mundo de dívida sustentável. Segundo os dados enviados ao Expresso SER pelo grupo Euronext, em dezembro foi ultrapassada pela primeira vez a fasquia de um bilião de euros de dívida cotada nas várias bolsas que fazem parte da plataforma pan-europeia. São muitos zeros: 1.000.000.000.000.
Do total de dívida que já foi emitida, a grande maioria, quase 60% ou 588 mil milhões de euros, correspondeu a “green bonds”, que é dívida que as empresas vendem para financiar projetos com um impacto benéfico no ambiente. Seguiram-se as“ social bonds” -- obrigações vendidas para financiar projetos sociais, -- que foram responsáveis por 245 mil milhões de euros ou 24% do total. Finalmente, as “sustainability bonds” totalizaram 115 mil milhões de euros (12% do total) e as emissões de “sustainability-linked bond” ascenderam a 50 mil milhões de euros (5% das emissões). No total, são mais de 1.500 emissões de obrigações por parte de mais de 400 emitentes.
Apesar das emissões com o carimbo ESG terem vindo para ficar, no ano que agora terminou registou-se um abrandamento na venda de dívida sustentável. Em 2022 foram feitas 326 vendas de dívida ESG na plataforma Euronext, aquém das 469 feitas no ano anterior. No ano passado, por causa da alta de preço dos combustíveis fósseis, a rendibilidade dos fundos ESG ficou aquém dos restantes fundos, o que acontece pela primeira vez em cinco anos. Muitos fundos ESG, por norma, evitam colocar em carteira ações ou dívida de empresas petrolíferas, que em 2022 conseguiram estar em alta por causa do aumento dos preços da energia.
Em Portugal, também se registou uma quebra na venda de dívida ESG, num mercado que continua a ser largamente dominado pela EDP que tem quase o monopólio da emissão “verde”. De acordo com os dados enviados pela Euronext ao Expresso SER, há cinco emitentes portuguesas que desde 2018 colocaram no mercado 5,5 mil milhões de euros de dívida sustentável, sendo que o grupo EDP é responsável por 4,95 mil milhões ou 90% do montante total emitido (ver tabela).
Este apanhado feito pela Euronext não contabiliza, por exemplo, as emissões de green bonds com colocação particular (em vez de venda pública) ou aquelas que ainda não estão listadas na Euronext. A elétrica portuguesa liderada por Miguel Stilwell, além das emissões reportadas pela Euronext, fez mais duas, quase em simultâneo, em outubro de 2022, uma em euros e outra em dólares. A EDP Finance BV colocou no mercado 500 milhões dólares, com vencimento em outubro de 2027, e pela qual se comprometeu a pagar um cupão de 6,3%. No dia seguinte, a 4 de outubro, a elétrica nacional vendeu mais 500 milhões de euros em green bonds, com vencimento em março de 2030, e com um cupão de 3,875%.
Em 2022, além da EDP, a Mota-Engil também foi ao mercado de dívida ESG, mas em vez de “green bonds” vendeu “sustainability-linked bonds”. Esta venda, de 70 milhões de euros, está ligada à sustentabilidade porque o prémio pago aos investidores está ligado ao índice que mede o peso dos acidentes de trabalho na empresa; se falhar o objetivo (de passar o índice de 4,55, em 2021, para 2,76, em 2026) pagará mais 1,25 euros por cada obrigação emitida.
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