Sociedade

Windows 7 também foi obra de um português

22 outubro 2009 10:55

Carlos Abreu (www.expresso.pt)

Pedro Teixeira no quartel-general da Microsoft em Redmond, EUA

Chama-se Pedro Teixeira, tem 36 anos, e integra um grupo de 12 programadores que desenvolveram o núcleo do novo sistema operativo da Microsoft. Em entrevista ao Expresso, garante que o Windows 7 aumenta "brutalmente" a produtividade dos utilizadores.

22 outubro 2009 10:55

Carlos Abreu (www.expresso.pt)

Pedro Teixeira, 36 anos, integra um grupo de 12 programadores que desenvolveram o núcleo (Kernel, em inglês) do novo sistema operativo da Microsoft, o Windows 7, que hoje chega às lojas.

O Kernel é a camada de software responsável pela gestão dos recursos do computador. Dito de outra forma: se o novo sistema operativo está mais rápido, tal como garante quem já o testou, Pedro Teixeira e a sua equipa em muito terão contribuído para isso.

Licenciado em Engenharia Electrotécnica pelos Instituto Superior Técnico, em Lisboa, trabalhou oito anos e meio na Microsoft Portugal onde desempenhou funções de aconselhamento técnico e comerciais. Concorreu à actual posição, com que sempre sonhou, impulsionado pelos amigos, por não acreditar que conseguiria lá chegar.

Mas consegui e hoje, pode dizer-se, a última versão do sistema operativo que irá gerir milhões de computadores em todo o Mundo também é obra de um português.

Faz parte de um grupo restrito que tem acesso a um dos segredos mais bem guardados na informática: o código-fonte do sistema operativo que gere milhões de computadores em todo o Mundo. Teve de assinar algum contrato com cláusulas de confidencialidade?

Não. Quanto entrei para a Microsoft tive de assinar um contrato de confidencialidade que inclui toda a parte de marca registada, entre outros aspectos, e creio que esse contrato é válido para um colaborador que trabalhe na área de vendas ou nas áreas mais operacionais, como aquela onde é desenvolvido o código-fonte do Windows.

Como é que foi parar aos Estados Unidos?

Trabalhei na Microsoft Portugal durante oito anos e meio, mas sempre aspirei a trabalhar nesta área. Por ter colaborado com uma subsidiária de pequena e média dimensão, às tantas vi-me a braços com a equipa de vendas onde estive durante mais de três anos.

Quando entrei para a Microsoft Portugal fui colocado na área de aconselhamento técnico de clientes. A certa altura já estava a gerir um maior número de clientes e envolvido em eventos de grande volume e acabei por ir para a área de evangelização.

Certo dia, achei que já tinha aprendido o suficiente com essa experiência e decidi candidatar-me a esta posição. A Microsoft dispõe de uma aplicação informática que permite ver as vagas disponíveis em todo o Mundo. Não estava muito moralizado, porque achava que a minha experiência dentro da empresa não era bandeira para me candidatar a um lugar como este, mas fui incentivado por vários amigos. E assim foi. Candidatei-me e cá vim parar, há cerca de dois anos e meio.

Quais são as grande diferenças entre trabalhar na Microsoft Portugal e na sede da empresa nos Estados Unidos?

Há muitas. Desde logo porque trabalhamos com pessoas oriundas de todo o Mundo. Não há duas pessoas do mesmo país.

No grupo onde está integrado as nacionalidades também são muito diversas?

Sim. Trabalho com um indiano, um ucraniano, um francês, um americano... Mas voltando às diferenças... Existe uma enorme colaboração entre as pessoas. Um problema meu é sempre visto como um problema de toda a equipa. Se se aproxima um prazo que é preciso cumprir e alguém está com um problema que não consegue resolver, de repente, toda a equipa está na sala dessa pessoa a tentar ajudar. Em Portugal, não senti este espírito de equipa tão intenso.

O que é que pode fazer com o novo Windows 7 que não seja possível com os antecessores, nomeadamente o XP e o Vista?

A produtividade de uma pessoa a trabalhar com o Windows 7 é brutalmente superior em relação a outra que esteja a usar o XP ou o Vista. Não só porque o sistema operativo está muito mais dinâmico, respondendo mais rapidamente aos pedidos do utilizador e consumindo menos recursos do computador, mas também porque vai ao encontro daquilo que as pessoas disseram ser as suas necessidades. A interface gráfica foi desenvolvida a pensar na forma como as pessoas gostam de trabalhar, no seu fluxo mental. É muito mais fácil encontrar o próximo passo a trabalhar com o Windows 7 do que com o Vista ou mesmo com o XP.

Para o utilizador doméstico há alguma funcionalidade que gostasse de destacar?

A interface gráfica, não sendo revolucionária, vai ao encontro da forma como as pessoas naturalmente trabalham. A forma como foi desenhada permite aos utilizadores estarem sempre a controlar o que estão a fazer sem se perderem numa panóplia de janelas abertas, sobretudo quando se está se está a fazer várias coisas ao mesmo tempo. Os controlos básicos de aplicações como o Media Player acessíveis directamente na barra de tarefas, o aero peek [que torna as janelas abertas transparentes para que possa ver tudo o que está no ambiente de trabalho sem ter de minimiza-las uma a uma] permitem trabalhar de uma forma muito mais eficiente.

E em matéria de segurança. Há novidades?

Foram incluídos uma série de melhoramentos de segurança que permitem ao utilizador estar preparado para enfrentar as ameaças actuais que visam muito mais a sua ingenuidade do que as fragilidades do próprio sistema operativo.

Recorde-se que parte destes melhoramentos já tinham sido incluídos no Windows Vista, protegendo os utilizadores contra ataques de phishing [recolha não autorizada de informação sigilosa como por exemplo palavras-passe], entre outros, mas o constante surgimento de janelas alertando para os perigos foram mal recebidas pelas pessoas por as considerarem intrusivas.

Ainda há dias recebi um email a dizer que eu teria sido detectado por uma agência federal americana a fazer operações bancárias com terroristas, com um alegado relatório do FBI em anexo. Claro que se tratava de um vírus. Muitos utilizadores, em pânico, acabam por abrir esse ficheiro. Se o fizerem em XP, o vírus entra direitinho. No Vista isso não acontece, mas o utilizador é bombardeado com uma série de pop-ups, algumas das quais com perguntas às quais muitas pessoas não sabem responder.

No Windows 7, tudo isto foi pensado de uma forma muito mais amiga do utilizador menos experiente. Mais clara, dando à pessoa toda a informação necessária para tomar uma decisão consciente.

Alguns analistas de mercado dizem que o Windows 7 não vai ajudar a vender computadores. Concorda?

Penso que depende do segmento. No que diz respeito aos Net PC, na medida em que o Windows 7 corre perfeitamente neste tipo de computadores com menos recursos, será que não vai ajudar a vendê-los? Provavelmente vai.

Mas há mais. O Windows 7 permite a operação por toque, isto é, a utilização das mãos para gerir o ambiente de trabalho e as aplicações. Será que vai ajudar a vender computadores com novos sistemas de controlo por toque [monitores com controlo por multitoque]? Penso que sim.

Mas se me pergunta se vai ajudar a vender computadores apenas por terem mais recursos, diria que não. Mas por potenciar novos computadores com novas funcionalidades, diria que sim.

Quando regresso para o meu computador depois de brincar com um que tenha multitoque, sinto que já podia estar a fazer as coisas de uma maneira diferente.

Em suma, penso que vai ajudar a vender novos computadores mas não pelas razões do costume.