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“Congresso Reconquista” escrito num email não fez “soar o alarme” aos funcionários da Assembleia Municipal de Lisboa

Rosário Farmhouse
Rosário Farmhouse
JOSÉ SENA GOULÃO

Serviços da Assembleia Municipal de Lisboa receberam alguns emails da mesma pessoa para a marcação de um congresso no Fórum Lisboa. Apenas num deles é referida a expressão "Congresso Reconquista" que no entanto não foi associada na altura a qualquer organização de extrema-direita. AML avançou com uma auditoria ao processo de cedência da sala

“Congresso Reconquista” escrito num email não fez “soar o alarme” aos funcionários da Assembleia Municipal de Lisboa

Hugo Franco

Jornalista

Os serviços da Assembleia Municipal de Lisboa (AML) receberam vários emails de uma pessoa para a marcação de um congresso no Fórum Lisboa, a 2 de novembro, tal como o Expresso noticiou na última edição impressa.

Num desses emails, enviado a 27 de setembro, é referida a expressão "Congresso Reconquista", noticiou o Público e confirmou o Expresso, mas os funcionários da autarquia não fizeram qualquer associação ao grupo que nas redes sociais defende abertamente a expulsão dos imigrantes, põe em causa os direitos das mulheres e da comunidade LGBTQ+. "Essa expressão não fez soar os alarmes a quem recebeu o email", conta ao Expresso uma fonte camarária. "Até porque Reconquista era, até há duas semanas, para estes funcionários, apenas o nome de um jornal regional."

O equívoco terá sido ampliado pelo facto de nesses emails ter sido referido que se tratava de um evento com o apoio da Juventude do Chega e ser do conhecimento de um deputado do mesmo partido — uma informação já negada ao Expresso pelo Chega, que nega ter alguma ligação com este grupo, considerando "abusiva" a utilização do nome do partido naqueles emails.

Há uma semana, a AML garantiu ao Expresso e através de um comunicado que foi uma mulher que realizou o pedido formal para o aluguer do espaço onde se realizam regularmente eventos de natureza política, cultural e económica. E "cujo nome não suscitou qualquer alerta”. A referida mulher escreveu, por e-mail, que pretendia a “disponibilidade do Fórum Lisboa no dia 2 de novembro, sábado”, acrescentando que a “entidade” que procedia ao aluguer era o “coletivo de jovens (partido Chega)” e que o evento era “uma conferência sobre a relação entre modernidade e coletivismo e seus efeitos na sociedade portuguesa”.

O Expresso apurou que também Afonso Gonçalves, líder do mesmo grupo, enviou outros dos emails. Mas, uma vez mais, o seu nome "não levantou suspeitas" entre os funcionários camarários. "Muitos deles, só a partir das notícias da última semana perceberam de quem se tratava", conta a mesma fonte autárquica.

Perante a falta de dados que gerassem "sinais de alarme" e de uma "informação considerada inócua" na altura, a presidente da AML, Rosário Farmhouse, despachou o pedido a 24 de outubro. "Em todos os emails, nunca foi feita qualquer menção a etnias ou nacionalismos, os temas principais abordados por este grupo", acrescenta esta fonte.

O Expresso enviou algumas perguntas à presidente da AML, Rosário Farmhouse, mas não obteve respostas. Uma fonte oficial apenas referiu que "em reunião da conferência de representantes dos vários grupos municipais entendeu-se fazer uma auditoria ao processo de cedência da sala. Até que venham os resultados, a Presidente da AML não se pronunciará sobre o assunto".

No interior da AML "não existe qualquer intenção de crucificar os funcionários que receberam os emails", embora se admita que se trate de um assunto "mais de cariz administrativo do que político".

Coro de críticas da oposição

Tal como Expresso escreveu este fim de semana, os partidos da oposição exigem respostas a Rosário Farmhouse. Já durante esta semana, o PSD de Lisboa requereu uma auditoria aos procedimentos em vigor relativos ao aluguer do auditório da sede da Assembleia Municipal de Lisboa para que seja possível identificar "as falhas a corrigir" e assim evitar que se volte a repetir.

De acordo com a agência Lusa, para os deputados municipais do PSD "se os serviços da AML admitem ter sido ludibriados com o pedido de aluguer da sala, alegadamente feito sob falso pretexto e utilizando indevidamente" o nome de um partido, é preciso apurar o que aconteceu.

Já esta terça-feira, numa reunião da AML, José Leitão, deputado municipal do PS de Lisboa, considerou o congresso do Reconquista no Fórum Lisboa como "um acontecimento grave", "repudiando" a ideologia do grupo "racista e xenófoba" e que "não age de forma isolada" a nível europeu.

À Lusa, Afonso Gonçalves, o líder do Reconquista,afirmou que desde o princípio se identificaram, nunca tendo dito serem "do Chega", porque "não havia qualquer razão para o fazer". "A Reconquista nunca mentiu à câmara sobre os oradores presentes e os seus temas, nem sobre o teor do evento, algo que se pode provar em sede própria pela consulta dos 'e-mails' trocados entre as partes", escreveu, em comunicado, a organização.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: HFranco@expresso.impresa.pt

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