21 dezembro 2013 22:48
Investigadores revelam audição do gravador do 'cockpit'. O comandante estava sozinho na cabina quando se despenhou o avião, entre a Namíbia e o Botsuana.
21 dezembro 2013 22:48
O comandante do avião moçambicano que caiu na Namíbia em novembro, quando fazia a ligação Maputo-Luanda, teve a "clara intenção" de despenhar o aparelho, concluiu a comissão de investigação ao voo TM470 da LAM, no qual morreram 33 pessoas, entre as quais sete portugueses.
Em conferência de imprensa, sábado em Maputo, o presidente do Conselho de Administração do Instituto de Aviação Civil de Moçambique (IACM), João Abreu, revelou que foi a audição das gravações do cockpit que indicam a ação do comandante e o facto de se ouvirem diversos sinais de alerta dos sistemas sem resposta.
O piloto do LAM, segundo o gravador do cockpit, encontrava-se sozinho na cabina. Ouve-se bater à porta, mas Hermínio dos Santos Fernandes não responde. E terá, então, efetuado uma série de manobras ainda por explicar, mas que se revelaram na perda de potência dos motores e numa descida do aparelho a seis mil pés por minuto.
"Ouvem-se também, insistentes batidas na porta do cockpit, batidas essas que também foram ignoradas pelo comandante", afirmou João Abreu, citado pelo jornal moçambicano "A Verdade".
As caixas negras revelaram ainda que a altitude foi alterada manualmente três vezes, de 38 mil pés para 592 pés, e a velocidade também.
Apesar destas conclusões, a comissão adianta que "a razão para todas estas ações é desconhecida" e que a investigação ainda não se encontra finalizada.
O piloto do Embraer tinha 9053 horas de voo, 1395 das quais como comandante de aviões, segundo divulgou na altura a LAM, adiantando que Santos Fernandes revalidara a sua licença a 12 de abril do ano passado e fora dado como apto numa inspeção médica no dia 2 do passado mês de setembro.
As suspeitas de uma possível intenção de suicidio por parte do piloto, tendo em conta os dados apurados até agora, fazem lembrar acidentes ocorridos nos anos 1990, com aviões das companhias de Marrocos e de Singapura.
Em 1994, o piloto Younes Khayati, de 32 anos, fez deliberadamente cair o avião da Royal Air Maroc, o voo 630, que descolara dez minutos antes de Agadir com destino a Casablanca. Morreram 44 pessoas.
As conclusões sobre o acidente do boeing que se despenhou em 1997, quando voava de Jakarta, na Indonésia, para Singapura, provocando a morte a 104 pessoas, não foram tão taxativas, mas ficou sempre a dúvida quanto aos atos do piloto Tsu Way Ming, de 41 anos.
O caso do Embraer da LAM é o segundo acidente mais grave da história da aviação civil de Moçambique. O primeiro registou-se em 1986, na África do Sul, quando morreram 34 pessoas, entre elas o Presidente Samora Machel.