Reequacionar o valor do que custa couro e cabelo

Estamos a ficar carecas no pós-covid ou ter cabelo é um novo luxo?, questiona Catarina Nunes, que relata a sua experiência pessoal
Estamos a ficar carecas no pós-covid ou ter cabelo é um novo luxo?, questiona Catarina Nunes, que relata a sua experiência pessoal
A maioria dos dizeres populares peca pelos pressupostos redutores e generalistas. Mas ao longo deste último ano dei por mim a reequacionar a descrença no “só damos valor quando perdemos” ou “não há mal que dure sempre”. Uma queda de cabelo aguda e prolongada, apesar dos inúmeros tratamentos, é o suficiente para aceitar a sabedoria do povo.
Começa por ser um aglomerado no ralo do chuveiro, depois da lavagem, que vai ganhando volume, semana após semana. Mechas de cabelo no chão, na cama e nas mãos (depois de lhe mexer quando está molhado) são os sinais de alerta de um mal que me parece que se prepara para durar infinitamente, até à queda do último fio de cabelo.
Por necessidades a que a escrita desta coluna sobre marcas e experiências de luxo obriga, fiz uma extração e avaliação da raiz e do fio de cabelo, há coisa de três anos. Estava tudo muito bem e a experiência na clínica Ricardo Vila Nova Hair Doctors representou apenas isso mesmo. Uma experiência de abordagem invulgar dos cuidados capilares pela análise do ADN, o foco na saúde do couro cabeludo e os tratamentos com fórmulas bioidênticas.
Uma pandemia e duas vezes com covid depois, regresso a esta clínica como uma tábua de salvação in extremis, uma experiência à qual, de facto, só dei valor agora, depois de tentar tudo para recuperar a minha outrora farta cabeleira. O diagnóstico evidente a olho nu (perda de densidade, cabelos partidos e alguns novos a nascer) precisa de uma leitura mais fina. Para isso é extraído um cabelo e enviado para Londres, onde reside Ricardo Vila Nova, que começa a carreira de tricologista com um espaço em nome próprio nos armazéns Harrod’s, antes de abrir a primeira clínica em Portugal, em 2019, na avenida da Liberdade, em Lisboa.
Ricardo Vila Nova faz a avaliação ao microscópio, que indica que desde a última avaliação, em julho de 2020, o fio de cabelo ‘emagreceu’, perdeu diâmetro. O tricologista começa por me perguntar se, meses antes do início da queda (no final de 2021), tive retenção de líquidos ou aumento de peso. Resposta afirmativa. Fico a saber que a inflamação do organismo afeta a raiz do cabelo, ao desacelerar o metabolismo e fazer decair o nível de proteína no sistema imunitário, interferindo na proteína do cabelo, fundamental para a sua vitalidade.
Este quadro terá sido tão violento que nem as ampolas para o couro cabeludo, as massagens cranianas, os suplementos vitamínicos (por via oral e intravenosa, para repor a minha falta de B6), aos quais recorri antes de regressar à clínica Ricardo Vila Nova, pararam a queda. Entre os inúmeros tratamentos tópicos que segui ao longo de um ano, levei o Phytocyane mais a sério e com disciplina.
Direcionadas para a queda reacional feminina, estas ampolas tratam a perda de cabelo originada por stress, dieta, fadiga, pós-gravidez e mudanças de estação, acreditando que a minha condição podia ter a ver com todos estes aspetos, exceto o parto. Dentro desta gama da Phyto, há ainda um outro tratamento para mulheres, o antiqueda progressiva (idade, menopausa e hereditariedade), que não experimentei, e um específico para as necessidades dos homens (queda severa, hereditária e cabelo ralo).
Ao longo dos três meses recomendados pela Phyto foram crescendo cabelos novos mas a queda manteve-se, não tão aguda como anteriormente. Mesmo complementando a aplicação das ampolas com as cápsulas Phyto Phanere (vitaminas do complexo B, C e E, óleo de borragem e zinco). Fora das minhas tentativas ficaram os produtos dedicados à nutrição do couro cabeludo. A pele do crânio, aliás, é o mais recente território de marcas de cosmética de luxo, como a Guerlain, a Augustinus Bader e a Barbara Stürm, por exemplo, com o lançamento de óleos e linhas específicas, relembrando que a qualidade do cabelo depende dos tratamentos na sua base e não apenas nos fios.
Mas, tal como no raciocínio simplista dos dizeres populares, a relação causa/efeito entre o estado do cabelo e os cuidados que temos com ele exclui uma variável determinante: o ADN. Na minha consulta com Ricardo Vila Nova fico a saber que tenho predisposição para que o cabelo se torne fino, enquanto parte integrante da minha genética. Os processos inflamatórios do organismo ou o stress, entre outros, são apenas catalisadores daquilo que já terá tendência para acontecer.
O que isto significa é que nem todas as pessoas que passam por situações de inflamação do organismo ou de tensão emocional têm como garantido o enfraquecimento e queda do cabelo. Ricardo Vila Nova explica, porém, que quando há fatores genéticos é mais difícil de tratar do que quando estão em causa circunstâncias momentâneas, como o stress ou o pós-parto. Com o início do surto de coronavírus, há mais uma condição a ter em conta: a queda de cabelo enquanto sintoma da chamada ‘covid longa’.
Coincidência ou não, é no último ano que se multiplica a quantidade ou aumenta a visibilidade de clínicas de tratamento de queda e/ou implantes de cabelo, como a Insparya, da qual Cristiano Ronaldo é um dos donos. Outras tantas, que até à data estavam vocacionadas apenas para a medicina estética, entram igualmente neste segmento, à semelhança das marcas de produtos de cosmética que seguem este caminho.
A Valverde Clinic é uma das que alarga os serviços de estética ao cabelo, com tratamentos antiqueda como a mesoterapia capilar, o Plasma Rico em Plaquetas (PRP) e a terapia Led. Impulsionar o ciclo do crescimento através de injetáveis, aplicar fatores de crescimento que regeneram o couro cabeludo e estimular a produção de colagénio, respetivamente, são alguns dos propósitos destas intervenções.
Seguido o trilho da Ricardo Vila Nova Hair Doctors, a Valverde Clinic disponibiliza o Tricotest, que avalia o ADN e os genes diretamente associados à alopecia. Os resultados do teste de tricologia dão informação sobre eventuais mutações no genoma dos pacientes e as características genéticas relevantes para a prescrição do tratamento capilar mais indicado à alopecia, calvície e queda de cabelo.
Ricardo Vila Nova alega que o cabelo é uma preocupação crescente há algum tempo, mas tornou-se de facto mais generalizada com a covid-19, devido à forma como a queda de cabelo foi comunicada enquanto sintoma da doença. O que se passa agora é que o conceito de cuidar do couro cabeludo como se cuida da pele, no qual é pioneiro, é mais acessível, devido à evolução do mercado de tratamentos, com a existência de um maior número de clínicas.
Com o cabelo na ordem do dia, Ricardo Vila Nova reconhece os benefícios do PRP ou da injeção de vitaminas e proteínas no couro cabeludo, mas considera-os insuficientes, por não cuidarem da verdadeira causa da queda. Isto, segundo o tricologista, é diagnosticado através da leitura do fio de cabelo, com o Hair Scan Test, em conjunto com análises clínicas de despiste de desequilíbrios hormonais ou carências nutricionais, nos casos em que forem necessárias.
O meu diagnóstico está feito e tenho esperança nas etapas seguintes. Primeiro, um tratamento de choque com as fórmulas CR e Beneficience, à base de óleos de camélia japónica e rícino, com o foco no couro cabeludo e nas pontas do cabelo. De seguida, um banho com champô reestruturante misturado com champô hidratante serve de preparação para a próxima intervenção: uma máscara reparadora e hidratante, seguida do óleo Beneficience, aplicado no primeiro passo do tratamento.
É o último passo, porém, que faz a magia acontecer, digo eu, apesar de todos os passos serem parte de um processo que funciona holisticamente. O dermaroller faz o tratamento de retenção da queda a nível celular, através do microagulhamento do couro cabeludo. Objetivo? Permitir a penetração no bolbo capilar de um cocktail de substâncias ativas, à base de proteínas, para dar estrutura ao cabelo.
O foco do dermaroller é na nutrição e na travagem da queda, que pode acontecer progressivamente ou de forma imediata. Se o problema for cabelo quebradiço, pode demorar mais do que se tiver a ver com o couro cabeludo. No meu caso, a secagem dá o veredicto: nem um único cabelo perdido para a escova. Na lavagem seguinte, em casa, o ralo do chuveiro acusa uma queda adequada à normal renovação capilar.
O problema parece estar controlado, mas ainda assim terei de repetir o tratamento passado um mês. Esperando o melhor, mas preparando-me para o pior, não tiro da equação medidas mais extremas, num eventual futuro em que os fios perdidos não sejam recuperáveis. Nesta matéria, a Ricardo Vila Nova Hair Doctors vai agora além dos tratamentos e alarga os serviços aos implantes capilares, introduzindo em Portugal uma tecnologia que permite que o cabelo retirado (na nuca) - e transplantado para as zonas em falta - volte a crescer.
O método de transplante baseado nas células estaminais, praticado pelo médico holandês Coen Gho, passa a estar disponível nesta clínica, combinado com o método de diagnóstico através do ADN contido no fio de cabelo, seguido por Ricardo Vila Nova. Nunca houve tantas opções para evitar ou deixar de ser careca. Mesmo que custem mais do que couro e cabelo.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: CNunes@expresso.impresa.pt
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