Justiça

Presidente do Supremo Tribunal de Justiça preocupado com funcionamento do novo sistema de sorteio dos processos

Presidente do Supremo Tribunal de Justiça preocupado com funcionamento do novo sistema de sorteio dos processos
Tiago Miranda

Questionado sobre as dificuldades que antevê para este novo sistema de sorteio dos processos, que entra em vigor na quinta-feira, Henrique Araújo disse que "as dificuldades são mais da ordem burocrática e do próprio funcionamento do algoritmo"

O presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), Henrique Araújo, manifestou-se esta quarta-feira preocupado com o funcionamento na prática do novo regime de distribuição processual nos tribunais, sentimento que disse também abranger o resto classe de juízes.

"Sei que os colegas estão preocupados, eu também estou, não sabemos como vai funcionar na prática", declarou aos jornalistas Henrique Araújo, à saída da cerimónia de posse do novo vice-presidente do Conselho Superior da Magistratura (CSM), Luís Azevedo Mendes.

Questionado sobre as dificuldades que antevê para este novo sistema de sorteio dos processos, que entra em vigor na quinta-feira, Henrique Araújo disse que "as dificuldades são mais da ordem burocrática e do próprio funcionamento do algoritmo".

"Não sabemos como é que vai ser. Foram feitos testes antes da entrada em vigor, mas não sabemos como é que vai ser. Amanhã [quinta-feira] é que vai ser feito o primeiro teste", referiu, acrescentando que no caso concreto do STJ o primeiro ato de distribuição irá ocorrer às 14h30. "Vamos ver isso na prática. Vou estar presente no primeiro ato de distribuição para ver se funciona", vincou.

O magistrado manifestou-se igualmente preocupado com o facto de o CSM, como órgão do governo dos juízes, "não dominar o algoritmo [da distribuição dos processos] e no fundo este estar fora da esfera do controlo do CSM".

Henrique Araújo lembrou que tem falado várias vezes -- e que o vice-presidente hoje empossado também o referiu -- que "é preciso rever o domínio das plataformas e da própria criação do algoritmo como garantia de independência" do poder judicial.

"Tenho insistido sistematicamente nisto. Pelo lado do poder executivo não tem havido -- não quer dizer que não exista, mas não tem havido uma correspondente iniciativa em relação àquilo que nós propomos. Não seria assim tão difícil fazer isso, até porque é uma questão que já tem sido abordada há bastante tempo. Desde que tomei posse que falo nisto", insistiu.

Questionado quanto à falta de autonomia financeira dos tribunais, o presidente do STJ (e, por inerência, do CSM) respondeu que "é uma questão antiga que não está resolvida".

"Curiosamente, todos os Países de Língua Oficial Portuguesa têm garantido o elemento de autonomia financeira. Todos eles. Em Portugal, nós não temos autonomia financeira, nem na primeira instância -- que poderia a autonomia financeira gerida pelo CSM -- nem nos tribunais superiores", criticou, admitindo que, nesse aspeto, o país ainda está no terceiro-mundismo.

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