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O prédio que Nuno Teotónio Pereira gostava de ter construído

3 dezembro 2009 10:28

José Cardoso (www.expresso.pt)

O arquitecto confessa que a obra que mais o inspirou foi a Unidade de Habitação de Marselha, de Le Corbusier. Clique para visitar o canal Life & Style.

3 dezembro 2009 10:28

José Cardoso (www.expresso.pt)

Nunca me coloquei essa questão, dizer: "Gostava tanto de ter desenhado este ou aquele edifício. Sou incapaz de pensar nesses termos. Para mim, a obra de arquitectura está muito ligada ao seu criador, às circunstâncias do meio, ao programa e ao contexto urbano e social. A maneira como penso e projecto a arquitectura está relacionada com coisas concretas, com problemas específicos, com o lugar."

Ainda que nunca tenha tido "o sentimento" de querer projectar uma obra-prima da arquitectura, Nuno Teotónio Pereira reconhece a grande influência de Le Corbusier, sobretudo no início do seu percurso, e em particular da Unidade de Habitação (1945). "Le Corbusier foi um dos arquitectos que mais me fascinou, a sua produção arquitectónica e, sobretudo, o seu pensamento sobre o urbanismo. Impressionou-me muito a Unidade de Habitação em Marselha, empolgava-me a intensidade de vida, o movimento, as pessoas. Contudo, quando visitei o edifício, anos mais tarde, estava até já um pouco distanciado, verifiquei que não tinha aquela intensidade de vida que tinha imaginado. Mas ficou como um momento fundador."

Conheceu o mestre finlandês Alvar Aalto e as suas obras numa ida àquele país nórdico, no princípio da década de 60. "Foi uma viagem que me tocou imenso." Descobriu a Moderna Arquitectura brasileira, "que foi uma revelação para o mundo", e europeia. Só mais tarde se deixou impressionar pela arquitectura orgânica e as criações do norte-americano Frank Lloyd Wright.

"Estive sempre muito atento às obras da arquitectura moderna e contemporânea. Contudo, no momento da criação não sinto influências. Quando estou a pensar a arquitectura para um projecto concreto não sou influenciado. É talvez por isso que as minhas obras não têm muito que ver umas com as outras, são até bastante diferentes. Cada uma é uma resposta a um problema numa dada época." Projectou, em Lisboa, a Habitação Social dos Olivais (1959 e 1963), o Edifício Braamcamp (conhecido como Franjinhas, 1967), a Igreja do Sagrado Coração de Jesus (1970), distinguidas com o Prémio Valmor, e a Estação de Metro do Cais do Sodré (1997). Em 2004 recebe a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. Aos 86 anos continua a trabalhar todas as manhãs no seu ateliê.

(Texto original publicado na Revista Única da edição do Expresso de 28 de Novembro de 2009)