9 novembro 2010 22:05
As estrelas são pagas a preço de ouro para figurar nas produções de Hollywood. Mas se muito ganham, melhor o gastam... O correspondente do Expresso em Los Angeles revela algumas dessas excentricidades.
9 novembro 2010 22:05
A ideia de que os atores ganham e gastam rios de dinheiro não é sempre verdade. Reparem no casal Scarlett Johansson/Ryan Reynolds. Há tempos até foram passar uma luazinha de mel em Viena de Áustria, longe da loucura de Hollywood. Puderam ir a restaurantes, esperar a vez deles até que houvesse mesa vaga, pagaram o jantar como gente normal e nunca foram reconhecidos. Adoram ser pessoas como as outras, frugais. Casaram-se há pouco tempo e, neste último verão, lá se decidiram por comprar uma casita em Los Feliz.
O bairro é um dos mais centrais de Los Angeles mas, apesar das colinas bem cuidadas exibindo o observatório lunar de Griffith Park (que encerra saudades do James Dean) e, ali por perto, uma peça de luxo desenhada por Frank Lloyd Wright onde vive o produtor Joel Silver, a área continua a ser preterida pela realeza de Hollywood em favor do litoral costeiro de Santa Mónica, Malibu ou, mesmo, Pacific Palisades, onde vivem os Spielbergs. É aí que se gastam euros a sério quando um casal rico compra casa. Aí ou nas áreas mais tradicionais de Bel Air onde ainda vive o grande dinheiro, por vezes com ares de Nancy Reagan. Seja como for, nunca em Los Feliz.
Será que a Scarlett e o Ryan não podiam ter comprado algo mais caro, vistoso e a condizer com o status de estrelas desejáveis com direito a torre de marfim? É provável que não. Ainda são atores pobres. Estão no começo. São novíssimos. Além disso, ela não é exatamente conhecida por protagonizar superproduções que faturam muito dinheiro internacionalmente. Sim, pode ter participado no "Iron Man", mas, contados os resultados de bilheteira, não foi a ela que a Paramount ofereceu o Bentley, apreçado em 143 milhões de euros. Foi ao Robert Downey. Mesmo a parceria com a Dolce & Gabbana, nas páginas da imprensa, é vista como beneficiando ambas as partes: os italianos ganham visibilidade e ela adquire ainda mais sex appeal felino. Não é por aí que a Scarlett ficou mais rica. Quanto ao marido, só agora foi contratado para liderar um filme de ação caríssimo, "The Green Lantern", um super-herói criado pela Marvel.
Casa de apenas dois milhões
Em Hollywood toda a gente sabe que, não contando com a Disney, é a Marvel que pior paga aos seus atores de carne e osso. Por isso, já estão a ver. A Scarlett e o Ryan tinham mesmo que comprar uma casa assim mais em conta. Quando o "L.A. Times" anunciou a nova compra do casal, na cidade quase que se podia ouvir um bocejo que dizia "Mas eles decidiram viver numa barraca?". A modesta casa de Los Feliz custou-lhes 2 milhões de euros.
Esperemos que, desta vez, a Scarlett tenha mais sorte. Da última vez que comprou casa, pagou 5 milhões e, dois anos mais tarde, só recuperou 2,9. Por isso, já estão a ver. Quando uma pessoa tenta descobrir onde é que as estrelas de cinema gastam aqueles salários milionários, é difícil conseguir. Talvez seja por isso que o pai de Emma Watson, a protagonista de "Harry Potter", lhe escondeu que ela estava milionária e só lhe contou quando fez 18 anos. Diz a rapariga que até se sentiu doente...
É que o dinheiro, entre as celebridades, simplesmente, vai-se. Sobretudo se uma pessoa fizer aquilo que faz regularmente: passar o fim de semana na 'Disneylândia dos adultos', Las Vegas para os amigos, numa das suites presidenciais com dois pisos. Atenção que nos 114 mil euros de diária não estão incluídos impostos, taxa de resort, substâncias várias alinhadas pela noite dentro e, claro, as meninas mais bem cotadas da cidade e que, para efeitos de IRS, aparecerão na fatura final sob a alínea "arranjos florais"...
Infelizmente, um artista consagrado pelas artes de Hollywood não pode viver apenas no recreio adulto que é a cidade dos casinos. Por vezes tem de descer à realidade e comprar uma cidade na Georgia, como fez a Kim Basinger. Ou casas. Muitas casas. A Diane Keaton está, literalmente, viciada em casas. A especialidade dela são as de Wallace Neff em estilo Califórnia romântica. Há dias vendeu uma por 5,7 milhões que, em 2008, tinha comprado por 8 milhões. Quem a comprou foi o realizador Ryan Murphy, criador da série "Glee" que comanda as audiências televisivas, e senhor que dirigiu a Julia Roberts no filme "Eat Pray Love". Ela também tem à venda outra propriedade, esta em Pacific Palisades, por 6,1 milhões.
O prazer de viajar
Além do sul da Califórnia, um espaço de segurança internacional quase a ser abocanhado pelos multimilionários chineses, outros locais apreciados pelas estrelas incluem os paraísos ambientais da Costa Rica, Columbia Britânica, Utah, Bermuda e os lagos da Itália setentrional, como poderia atestar o ator George Clooney. Ou Aspen, onde a Kate Hudson passa o Natal. Viajar até nem custa nada. No hotel Caeasar's Palace, em Las Vegas, uma noite custa apenas 3000 euros. Mas afinal, o spa tem termas imperiais! Vale a pena, sobretudo quando o nosso nome é Reese Witherspoon, já fizemos milhões de lucros nas bilheteiras e, atualmente, somos pagos a 11 milhões por filme.
Na epidemia do real estate ninguém está imune. Contudo, os líderes incontestados na moda imobiliária são, como seria de prever, o casal mais cigano e complicado deles todos. Angelina Jolie e Brad Pitt e o seu império das propriedades horizontais já chegaram a Hollywood Hills (uma hacienda tradicional no mesmo bairro da Helen Mirren e do Roland Emmerich), Nova Orleães (arquitetura tradicional em pleno French Quarter), a França (uma fazenda vastíssima no sul) e a Veneza (ela ficou apaixonada pela zona quando lá esteve a fazer o filme "O Turista"). Mas o casal também apoia financeiramente algumas causas políticas e ambientais.
Quando não está a comprar relógios, fatos, mobília italiana ou casas, uma vedeta do cinema americano pode ser vista a comprar ilhas, estejam elas ao largo de Belize ou nos arquipélagos do Pacífico. A que o Johnny Depp comprou custou apenas 2,6 milhões de euros. O valor da compra é francamente irrisório dadas as vantagens que traz, e a quem traz. 1) as receitas anuais do dono atingem os 100 milhões por ano. 2) a ilha está situada a cerca de 100 km a sul de Nassau, nas Bahamas, ou seja, pertíssimo de Miami, uma distância insignificante se formos a lembrar que o amigo Marlon Brando teve de se ir esconder nos fundilhos do Pacífico Sul para que o deixassem em paz. 3) Depp sente-se de tal modo aliviado por ter fugido aos fotógrafos que, embora a ilha tenha o nome maravilhoso de Little Halls Pond Cay e disponha de seis praias cristalinas de areia fina, o ator decidiu rebatizar a coisa com o nome 'Fuck Off Island'.
Casamentos: investimento não traz felicidade... Se, pelo contrário, a publicidade for mais importante do que a privacidade, o ator de cinema muito rico e ambicioso pode sempre casar-se em Roma com a Katie Holmes. Um casamento sancionado de perto pelo Vaticano, daqueles que vem em modelo premium e que tenta reabilitar carreiras a pique, custa 2,8 milhões de euros. Mas, ao menos, inclui o Andrea Bocelli no palco e um vestido Armani no corpo da noiva radiante. Um momento assim não tem preço. Ou, se tem, é íngreme. O casamento da Christina Aguilera, no vale de Napa e com as cottages do Auberge du Soleil apreçadas a 2500 euros por noite, custou apenas 1,4 milhões. Não é que os votos trocados tenham surtido efeito. As núpcias, por exemplo, só duraram um par de anos. No entanto, se formos a dividir o dinheiro gasto pelos dias de felicidade conjugal, foi um dos casamentos mais em conta na História do Estrelato. O da Marie Antoinette, por exemplo, saiu-lhe francamente mais caro...
Muitas despesas
O da Britney Spears também não lhe ficou barato. O Kevin Federline, ex-marido, recebe dela 446 mil euros de três em três meses, de facto uma gota de água se levarmos em consideração que a cantora tem outras despesas. O Centre For Early Education, para miúdos com quatro anos ou menos, custa 15 mil euros por mês, uma propina que criaria ansiedade em qualquer mãe. Nos meses em que pareceu enlouquecer à frente das câmaras, gastou 7,1 milhões de euros entre fevereiro e dezembro. É fácil saber onde. Seis meses de guarda-costas custam 357 mil euros. Talvez não ao George Clooney, que estabeleceu uma relação próxima com o Giovanni. Esse deve custar mais, mas vale a pena porque o italiano é mesmo um guarda-costas muito terra a terra, talvez mesmo melhor que o Obi, que é aquele que o George mais usa quando está em Los Angeles. E o George pode pagar. De cada vez que viaja entre Hollywood e o palácio do século XVIII que adquiriu nas margens do Lago de Como, a Warner Brothers, que lhe empresta o jato, só cobra 214 mil euros. A despesa principal é o combustível. Não deixa de ser uma chatice, isto de, só porque queremos ir passar uns dias à outra casa, sermos obrigados a fazer uma escala inconveniente na Gronelândia para reabastecer o depósito.
Mas o George é bom rapaz. No último filme dele, "The American", exigiu que as filmagens fossem feitas na região italiana afetada pelo terramoto. E luta para evitar o genocídio do Sudão. Não é o único a exigir apenas viagens em jatos privados. O Russell Crowe faz o mesmo entre Sydney e Los Angeles, se vamos a falar em 14 horas de viagem com paragem obrigatória num local remoto (neste caso: Samoa, Taiti ou Fiji). E a Nicole Kidman também só consegue viajar dessa maneira, o que se compreende porque passou muito tempo a ser mimada pelo Tom Cruise, nesse departamento. A Sandra é que só viaja em linhas aéreas comerciais. É um medo que lhe ficou do acidente que teve no Natal de 2000, quando ia de viagem para o Texas e se viu despenhada numa estância de inverno do Wyoming. Voltando aos guarda-costas, há tradições que os ricos não gostam de perder. O ator que chegou a governador gasta 11 milhões de euros por ano em proteção pessoal. Mas é preciso. Até porque há coisas de valor dentro de casa. A Jennifer Aniston comprou, há meses, um quadro de Robert Motherwell por 1,3 milhões. A Madonna é que pende mais para o Picasso e Fernand Lèger. O grande colecionador da cidade, contudo, ainda era o Dennis Hopper, seguido de perto pelo Steve Martin e pela dupla Beatty-Bening.
Depois, há a praga dos advogados. A Britney, antes de lhe ter sido retirada a tutela dos bens, estava a gastar 700 mil euros só em advogados. Não é raro uma estrela sair de casa com a honra intacta para, horas depois, precisar que lhe salvem a reputação, a imagem, a vida, ou pensam que foi por acaso que, durante uns anos, a Halle Berry passava os discursos de aceitação de prémios a agradecer às suas várias equipas especializadas em jurisprudência? Tudo isso custa muito dinheiro, sobretudo quando até os estagiários de uma firma legal são remunerados a 300 euros à hora.
Fortunas que se evaporam
Isto também te diz respeito a Lindsay Lohan. Estamos a falar dos 6 milhões que conseguiu desbaratar em menos de três anos de estrelato, não só em defesas legais mas, sobretudo, em minissaias e carteiras, ou carros - como o Maserati Gran Turismo que, há dias, trouxe de mão dada quando apareceu para mais uma noitada no Château Marmont. Num stand automóvel o preço do brinquedo começa nos 100 mil, modelo-base. Nada mal para quem subsiste numa situação legal e financeira de tal modo precária que os agentes andam a pensar que uma boa maneira de ela voltar à ribalta é aceitando um convite para protagonizar a biografia da atriz Linda Lovelace, o que não deixa de ser uma opção difícil de engolir para quem tem as mãos atadas.
As fortunas que se evaporam. Mas não são só as atrizes mais festivas que gastam fortunas. Por vezes há, até, fortunas que se gastam sozinhas. Mas, por favor, não vamos falar daquela entrevista que terminou subitamente, só porque a Kyra Sedgwick não gostou quando lhe perguntei quanto dinheiro ela e o marido Kevin Bacon haviam perdido no esquema do Bernard Madoff. Outra fortuna que se gastou sozinha foi a do Nicolas Cage, sobretudo depois da frota de Rolls Royce, aviões, ilhas e, outra vez, casas, castelos da Baviera, megamansões em Las Vegas, Rhode Island, na cidade inglesa de Bath, Bel Air e, dentro em breve, Sing Sing, se não pagar ao estado do Nevada os 4,3 milhões de euros que deve em impostos atrasados. O ator, que recebe cerca de 28,5 milhões de euros em ordenados ao longo de um ano mediano, processou há dias o gerente pessoal e está quase a pedir a um juiz que o considere como estando na bancarrota. Não está só. Outros existem. Os excessos multiplicam-se, com atores megalómanos revelando frequentemente um consumismo doentio, arrogância de maneiras e, um pouco por todo o lado, um infantilismo odioso, fanático e bêbado que, mais tarde ou mais cedo, vai exigir não só meses de reabilitação mas, sobretudo. renovados encontros com a equipa legal. E, de momento, estamos só a falar de Mel Gibson.
Um aspeto que vale a pena realçar tem a ver com a diferença entre o que Hollywood mostra nos seus filmes e aquilo que Hollywood tem na conta bancária (Banhofstrasse, Zurique). No ecrã, chame-se ele Charles Foster Kane ou Gordon Gekko, a ideia de que uma vida esteja a ser dedicada ao dinheiro é uma ideia absolutamente indigna. É por isso que, do "Chinatown" ao "Fiel Jardineiro", a companhia empresarial e o caráter do indivíduo rico são vistos como, digamos, diabólicos. Do outro lado da moeda temos a maneira como Hollywood se relaciona, verdadeiramente, com o dinheiro. Num momento em que o talento disponível conseguiu impor-se na tabela dos milionários, fica esclarecido que não estamos aqui a falar daquela outra Hollywood, um tempo em que uma atriz como Marilyn Monroe vivia numa casinha minúscula em Brentwood e auferia por semana 90 euros, quando assinou o seu primeiro contrato com a Fox. Hoje, mesmo que o ator pertença a uma minoria, os 90 euros servem apenas para pagar a primeira garrafa de conhaque Hennessy e patrocinar a fase preliminar da noitada, se possível com a ajuda de canábis Maui Wowi, do Havai, atualmente com um preço de mercado ascendendo aos 140 euros por cada 15 gramas.
Onde já ninguém gasta dinheiro é em festas. Tornou-se demasiado fácil conseguir um patrocínio do vodka Crystal. Os brincos e sapatos para a esposa famosa são igualmente emprestados pela Balenciaga. A única despesa é mesmo, para ela, um corte de cabelo. Na Sally Hershberger o corte é de apenas 290 euros. A despesa maior vai para a coloração, que ronda os 570 euros mas pode chegar aos 700. Se o nome da estrela for Liz Taylor, maquilhagem e cabelo é uma despesa que ascende aos 7 mil euros por aparição.
Situações há em que um realizador como James Cameron leva para casa 36 milhões só pelo esforço da realização. Depois começa a ser pago por cada euro recebido na bilheteira, nas vendas de DVD e nos produtos periféricos do merchandizing. Antes de fechada a contabilidade tem ainda acesso a uma percentagem substancial das receitas no mercado estrangeiro. Não sei a que total é que esta soma vai dar, quando se trata de um realizador que imaginou e concretizou os dois primeiros filmes na tabela das bilheteiras globais (o último sucesso dele vai em 1,4 mil milhões de euros). No fim, feitas as contas por alto, Cameron vai arrecadar pelo menos 250 milhões pelo filme "Avatar". O visionário está agora a bordo de um dos seus submarinos, procurando inspiração na Fossa das Marianas. São ecossistemas que talvez venham a dar jeito num qualquer episódio 2 de uma qualquer saga ecológica com personagens azuis. Quer dizer, o artista ganha mas também investe. Feita a súmula, é isso que importa. Ganha dinheiro quem gera dinheiro...
Publicado na Revista Única de 6 de Novembro de 2010
