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Andrew Garfield: "Não estou no Facebook, prefiro socializar cara a cara"

3 novembro 2010 15:37

Rui Henriques Coimbra, em Toronto (www.expresso.pt)

Andrew Garfield é uma das estrelas de "A Rede Social", filme sobre a génese do Facebook, que estreia em Portugal amanhã, quinta-feira. Entrevista ao ator, que vai ser o novo Homem Aranha

3 novembro 2010 15:37

Rui Henriques Coimbra, em Toronto (www.expresso.pt)

O rapaz da carreira subitamente dourada chama-se Andrew Garfield e tem 27 anos. Embora já tenha participado em vários filmes, a sua carreira dispara agora com "The Social Network/A Rede Social", no qual faz de Eduardo Severin, o grande amigo do fundador do Facebook Mark Zuckerberg durante os anos em que esta rede social não passava de um esboço divertido nos dias boémios de Harvard. Daqui a pouco, Andrew Garfield fará de Peter Parker na manobra de rejuvenescimento que os estúdios da Sony Columbia querem imprimir à saga do Homem Aranha. Até lá, ficam as confissões discretas de um trabalhador incansável.

O seu sotaque ainda é marcadamente britânico. Explique-me um pouco esta saga que parece ser a sua vida: nasceu nos Estados Unidos, cresceu em Inglaterra mas, agora, sente-se obrigado a voltar à América porque vêm dali as ofertas melhores de trabalho?

Sim, nasci em Los Angeles. A minha mãe é inglesa e o meu pai americano. Os meus pais queriam que eu crescesse na companhia dos meus avós maternos no Sul de Inglaterra. Tive muita sorte, porque fui criado a ouvir as duas maneiras de falar inglês. Além disso, os meus pais têm maneiras diferentes de ver as coisas, dado que são de origens diversas. Tem sido muito interessante este equilíbrio precário e ansioso que tento estabelecer entre essas duas mentalidades. Relativamente ao meu regresso aos Estados Unidos, sim, deve-se ao convite para fazer de Homem Aranha. Essa mitologia sempre me entusiasmou desde que era um miúdo com 4 anos de idade. Era mesmo uma fantasia minha receber um telefonema convidado-me para fazer de Peter Parker. O meu sotaque só muda de acordo com os filmes, porque a maneira de falar é parte fundamental de qualquer personagem que se faça. Os meus amigos é que ficam furiosos quando respondo aos telefonemas num tom tipicamente britânico ou americano. Para "A Rede Social", a minha personagem nasceu no Brasil mas cresceu em Miami e, mais tarde, na região de Boston. Tinha que soar americano.

Como é que vê o seu futuro, se o percurso da vida é realmente insondável?

Se eu tivesse uma resposta boa para isso de certeza que estaria rico. Ou talvez não estivesse aqui agora. Se calhar estaria numa cabana no meio do bosque, sentado no chão, meditando, sentindo uma paz imensa.

Tem um perfil pessoal no Facebook? Que acha desta moda de as pessoas se revelarem via Internet?

Não estou no Facebook nem nas outras redes sociais. Nesta questão sou muito tradicional. Limito-me a colocar toda a minha energia e confiança na velha maneira de socializar: cara a cara e de corpo presente, embora tenha de admitir que continuo a passar demasiado tempo ao telefone. Mesmo depois de ter feito "The Social Network" continuo a não ser especializado na matéria mas gosto de acreditar que há um toque de génio naquilo que o fundador do Facebook fez. Foi como se tivesse conseguido penetrar num esconderijo secreto da psicologia humana: todos nós queremos relações pessoais, já, agora, instantâneas. Trata-se de uma revolução verdadeira na maneira como vivemos. Mas, aí, já estamos a falar outra vez da necessidade de nos rendermos ao que nos ultrapassa. Tenho esperança de que o Facebook seja usado de maneira benéfica, por exemplo para defender boas e grandes, causas. É um instrumento capaz de unir as pessoas muito rapidamente. Ainda estamos no início. Vamos ver onde é que isto vai dar. Mas que foram momentos muitíssimos excitantes na vida daqueles estudantes de Harvard, disso não tenho dúvida.

Como ocupa o tempo quando não está a trabalhar?

Quando era mais novo pratiquei sobretudo ginástica, mas, depois, deixei de crescer e comecei a levar muita pancada dos colegas. Tive de desistir. Ainda pensei em levar uma vida académica, dado que era um miúdo introspetivo. Mas percebi que aquilo de que eu precisava era de uma atividade criativa e foi aí que, graças a uma sugestão da minha mãe e ao alento dado por um professor ótimo de arte dramática, encontrei um espaço mais amplo para dar largas ao tipo de pessoa que sou. Sou grande fã da atividade física, sobretudo quando acontece no exterior e no meio da natureza. Faço snowboarding, surf, skate, alpinismo, esforços que deixam o corpo humano chegar mais longe, ou mais alto, ou mais rápido do que seria natural. E gosto muitíssimo de pingue-pongue, um desporto essencial para quem quer desenvolver o cérebro, os reflexos. Acho, aliás, que ando um bocadinho obcecado com o pingue-pongue. E adoro dança. Dança e música são verdadeiras paixões. Por estes dias, fui ver dois concertos que me deixaram boquiaberto. Um foi do Neil Young, na Oakland Arena. Absolutamente divino. Apareceu no palco como um fantasma e foi capaz de elevar o espírito comum da sala a níveis emocionantes. O outro foi da minha banda predileta, os Arcade Fire, que vi no Madison Square Garden, de Nova Iorque. Outra experiência religiosa. A sorte que tenho de viver nesta época.

Publicado na Revista Única do expresso de 30 de Outubro de 2010