Sociedade

"Escondido à vista de todos." Uma em cada 10 raparigas já foi abusada sexualmente

5 setembro 2014 12:44

Em todo o mundo, cerca de 120 milhões de raparigas já foram sujeitas a relações sexuais forçadas ou outro tipo de actos sexuais

reuters

Trata-se da maior compilação de dados feita até hoje sobre violência contra crianças. Estudo é da Unicef.

5 setembro 2014 12:44

Uma em cada dez raparigas com menos de 20 anos, em todo o mundo, já foi sujeita a relações sexuais forçadas ou outro tipo de atos sexuais forçados. São 120 milhões de raparigas, um dos dados que representam a "escala impressionante dos abusos físicos, sexuais e emocionais" contra crianças, de acordo com um relatório da UNICEF publicado esta sexta-feira.

As conclusões apresentadas no relatório "Hidden in Plain Sight" (Escondido à vista de todos) resultam da maior compilação de dados feita até hoje sobre a violência contra crianças em 190 países. Os dados mostram que uma em cada três raparigas adolescentes casadas, entre os 15 e os 19 anos, foram vítimas de violência emocional, física ou sexual por parte dos maridos ou parceiros.

Se na República Democrática do Congo ou na Guiné Equatorial a prevalência da violência praticada por parceiros é de 70%, já na Suíça 22% das raparigas inquiridas e 8% dos rapazes dizem ter vivido pelo menos uma experiência ou incidência de violência sexual. Nesses casos, a vitimização foi feita sobretudo no espaço virtual. 

"Estes são factos inquietantes - que nenhum governo, pai ou mãe gostaria de ver", aponta o diretor executivo da UNICEF, Anthony Lake. "Mas se não enfrentarmos a realidade que cada uma destas estatísticas revoltantes representa - a vida de uma criança cujo direito a uma infância segura e protegida foi violado - nunca mudaremos a mentalidade segundo a qual a violência contra as crianças é normal e tolerável. Ela não é nem uma coisa nem outra."

 

Homicídio, "bullying" e castigos 

O que também se conclui é que uma em cada cinco vítimas de homicídio em 2012 era uma criança ou adolescente com menos de 20 anos. Em países como o Panamá, Venezuela, Brasil, Guatemala ou Colômbia, a causa de morte mais comum para os rapazes entre os 10 e os 19 anos é o homicídio.

Também o "bullying" entra nestas estatísticas, concluindo-se que cerca de um em cada três estudantes entre os 13 e os 15 anos é vítima regular de "bullying" nas escolas. Em Portugal, 37% dos adolescentes entre os 11 e os 15 anos dizem ter sido já vítimas de bullying - surgimos em 17.º lugar entre 34 países.

No que diz respeito à forma de educar uma criança, três em cada 10 adultos acreditam que o castigo físico é necessário para a disciplinar corretamente e cerca de 17% das crianças de 58 países são submetidas a formas de castigos físicos severos - bater na cabeça, nas orelhas, na cara ou espancá-la repetidamente.

"A violência emocional contra as crianças é cometida de forma mais comum pelas pessoas com quem elas têm uma ligação ou relação pessoal próxima", lê-se no relatório.

 

Pedir ajuda 

A UNICEF conclui ainda que em países como o Afeganistão, a Guiné, a Jordânia, o Mali ou Timor-Leste, acima de 80% das mulheres "pensam que se justifica que um marido bata na mulher em determinadas circunstâncias". Em 28 dos 60 países com dados sobre ambos os sexos, são mais as raparigas do que os rapazes que acreditam que bater na mulher é por vezes justificado.

As estatísticas ainda sublinham que sete em cada 10 raparigas com idades entre os 15 e os 19 anos, vítimas de abuso físico ou sexual, nunca procuraram ajuda - "muitas afirmaram pensar que não se tratava de abuso ou não viam tal situação como um problema".

"A violência contra as crianças não é inevitável. Podemos preveni-la se não deixarmos que permaneça na sombra", afirma Anthony Lake. "Os dados contidos neste relatório obrigam-nos a agir no interesse de cada uma destas crianças e pelo reforço da estabilidade futura das sociedades em todo mundo."