Coronavírus

Impasse no Eurogrupo: Holanda no centro do bloqueio da resposta à covid-19

8 abril 2020 10:13

Susana Frexes

Susana Frexes

correspondente em Bruxelas

francois walschaerts

Numa reunião de 16 horas do Eurogrupo, a Holanda foi intransigente até ao fim: quer que os países que recorram ao fundo de resgate para fazer face à crise do covid-19 se comprometam com regresso às contas certas. A reunião por video-conferência foi dura. Será retomada às 16h de quinta-feira

8 abril 2020 10:13

Susana Frexes

Susana Frexes

correspondente em Bruxelas

Os ministros das Finanças tentaram um acordo madrugada dentro, mas não conseguiram e a reunião do Eurogrupo foi suspensa até amanhã. Vária fontes apontam o dedo à posição dura dos holandeses, que terão ficado praticamente isolados no bloqueio ao consenso.

A discussão foi dura e arrastou-se durante dezasseis horas. O entendimento chegou a estar à vista, mas de acordo com fonte europeia "os Países Baixos recusaram fazer qualquer concessão na questão do Mecanismo Europeu de Estabilidade" (MEE) e "ficam com a responsabilidade do bloqueio".

Enquanto a esmagadora maioria dos países está disposta a flexibilizar ao máximo as condições de acesso às linhas de crédito do fundo de resgate da Zona Euro - garantido que a austeridade não seria a moeda de troca - Haia continua a insistir que algum tipo de condição deve haver e que tem de ficar claro que os países que recorrerem a estes empréstimos, no futuro, devem tomar medidas para voltar ao caminho da sustentabilidade. A questão em torno da condicionalidade ficou por resolver. Era o ponto mais polémico e continua a sê-lo.

Outra fonte dá conta que mais do que um choque extremado entre norte e sul, houve um "bloqueio" permanente da Holanda a várias propostas e que o país ficou isolado no fim. A meio da noite, por volta das cinco da manhã, o próprio ministro francês Bruno Le Maire ter-se-á irritado e considerado "uma vergonha" que os ministros das finanças continuassem a "regatear" palavras para fechar um texto conjunto "quando milhares estão a morrer".

Alemanha e França chegam ao fim do primeiro dia de Eurogrupo alinhados. Na rede social Twitter, o ministro francês Bruno Le Maire e o colega alemão, Olaf Scholz deixam um apelo conjunto "a todos os países do Euro" para que estejam "à altura do desafio" e "não se recusem a resolver as difíceis questões financeiras".

O recado até poderia servir para Itália, que tem sido muito crítica da utilização do MEE, mas ao que o Expresso apurou é sobretudo para o ministro holandês, Wopke Hoekstra. Um diplomata europeu adianta que "a vontade holandesa para procurar construtivamente um compromisso em torno da condicionalidade do MEE ficou bastante aquém".

Várias questões estão ainda por esclarecer, porque para os italianos - e o primeiro-ministro Giuseppe Conte tem-no dito - o fundo de resgate da Zona Euro não é o mecanismo adequado para responder à crise económica provocada pela pandemia. Roma quer a criação de Eurobonds e deverá continuara a insistir na mutualização da dívida.

No entanto, fonte europeia adianta que, durante a noite, os italianos estariam dispostos a fazer cedências para fechar já um primeiro consenso: aceitavam a mobilização do MEE desde que a condicionalidade de acesso fosse a mais suave possível, e sob a promessa de se enviar para os líderes a discussão sobre a criação de um fundo de apoio à retoma.

Os franceses também querem este fundo - aliás, a proposta inicial é de Paris - e não descartam que possa vir a incluir emissão de dívida conjunta para baixar o custos do endividamento. No entanto, essa mutualização da dívida não seria referida neste acordo do Eurogrupo. Por um lado, porque os ministros não perderam tempo nem entraram nos detalhes dessa discussão. Cada um sabe o que os outros defendem e querem. Por outro lado, porque esse é tema que nem a Alemanha aceita, e aqui está ao lado dos holandeses, austríacos e finlandeses.

Ministro holandês justifica-se

Wopke Hoekstra usou a rede social twitter para explicar as posições que tomou. Ao contrário de outros, o ministro holandês fala numa reunião "construtiva", considerando ser "ainda cedo para fechar um pacote" de medidas europeias de resposta à crise.

Para que não restem dúvidas, Hoekstra volta escrever que os Países Baixos "eram, são e vão continuar a ser contra os Eurobonds". Argumenta que "aumento os riscos na Europa em vez de reduzi-los" e que além de ser "imprudente, também não é razoável", porque nesse caso Haia teria de garantir a dívida feita por outros.

Quanto ao Mecanismo Europeu de Estabilidade, admite que no imediato possa ser "usado incondicionalmente para cobrir custos médicos" com a pandemia. Mas para o "apoio a longo prazo" considera que é preciso "combinar o uso do MEE com certas condições económicas".

Fonte ligada ao grupo de negociação holandês explica ao Expresso que o ministro tem de seguir esta linha, porque é também isso que defende o Parlamento holandês. Se assim continuar, então a tarefa fica mais complicada para um acordo nesta quinta-feira, quando o Eurogrupo voltar a reunir-se.