As enfermarias que antes pareciam fantasmas estão agora saturadas, prontas a procurar dar o melhor pelos doentes, mas exaustas. O pessoal está esgotado. Vi o cansaço em rostos que não sabiam o que isso era, não obstante as cargas de trabalho já massacrantes que tinham.” Estas palavras foram escritas por Daniele Macchini, médico italiano no hospital Humanitas Gavazzeni, em Bergamo, região de Itália particularmente atacada pela pandemia de Covid-19. Fazem parte de um testemunho que o Expresso publicou no seu site no passado dia 11 de março. É um texto que é várias coisas ao mesmo tempo: um apelo a todos os cidadãos do mundo para que levem o novo coronavírus a sério, um aviso para que respeitem as orientações institucionais, um registo na primeira pessoa da impotência que um médico sente na hora de decidir quem vive ou morre. Em plena tragédia, é também um elogio sentido à capacidade de trabalho e resistência de todos os seus colegas. “Já não existem cirurgiões, urologistas, ortopedistas, somos apenas médicos que improvisadamente passam a fazer parte de uma única equipa, a fim de defrontar este tsunami que nos assolou.”
Itália, cujo sistema nacional de saúde entrou em colapso perante o surto de Covid-19, tem mais médicos por mil habitantes que a média da UE, mas menos enfermeiros. Portugal apresenta um padrão semelhante: mais médicos do que enfermeiros per capita. No entanto, todas as fontes internacionais que comparam o número de ambos nos países da UE — por exemplo, o Observatório Europeu de Sistemas e Políticas de Saúde (parte da ONU) — fazem a ressalva: no caso português, são contabilizados todos os médicos com licença para praticar, resultando numa estimativa em excesso do número de profissionais — cerca de 30%. Algo semelhante acontece na Grécia, o que justifica as posições cimeiras que estes dois países ocupam no contexto da OCDE. Assim, será a Áustria o país da OCDE com mais médicos por mil habitantes. A realidade austríaca encontra paralelo com o que se passa em países como a Noruega, Suíça, Alemanha ou Suécia. O relatório da OCDE (Health at a Glance 2019) mostra ainda que os Estados Unidos da América têm atualmente uma média de 2,6 médicos por mil habitantes, ligeiramente menos que o Reino Unido (2,8). Os dois países têm mais médicos por habitante que Japão, Coreia do Sul e China.
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