Cecília Arraiano

Cientista portuguesa distinguida

15 outubro 2008 20:04

Maria Luiza Rolim*

A bióloga Cecília Arraiano é o sétimo membro português da Organização Europeia de Biologia Molecular, que conta com 45 Prémios Nobel. (Veja link para entrevista no fim do texto)

15 outubro 2008 20:04

Maria Luiza Rolim*

A portuguesa Cecília Arraiano foi hoje eleita membro vitalício da Organização Europeia de Biologia Molecular (EMBO). É um reconhecimento da carreira científica que desenvolve no ITQB -Instituto de Tecnologia Química e Biologia da Universidade Nova de Lisboa, em Oeiras.

A cientista considera que a distinção tem "um sabor especial", sobretudo por ter tido "muitas dificuldades" na sua carreira em Portugal. E admite que "são os especialistas estrangeiros que, de facto, me têm dado mais valor".

Licenciada em Biologia pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (1982) e doutorada em Genética pela Universidade da Geórgia (EUA), Cecília Arraiano é responsável por um grupo de investigação no ITQB que estuda o papel da maturação e degradação do ARN (ácido ribonucleico, parente do ADN, a molécula com que se escrevem os genes) na regulação da expressão génica.

Elevada contribuição

A cientista portuguesa foi eleita pelos membros da EMBO por proposta de Claudina Rodrigues-Pousada, do ITQB, com o apoio de Cláudio Dunkel, do IBMC (Porto) e de vários cientistas europeus.

Ao saudar hoje a sua eleição, juntamente com as de outros 58 cientistas de vários países, Hermann Bujard, director da EMBO, disse que estes investigadores "contribuíram significativamente para o avanço das ciências da vida moleculares".

"Nos últimos anos a investigação sobre ARN tem sido considerada prioritária, por se ter descoberto que através dele se podem curar doenças e até modificar o património genético", disse a cientista. A sua equipa estuda actualmente a acção de ribonucleases (enzimas que degradam o ARN) em colaboração com parceiros internacionais, contribuindo para um maior conhecimento deste mecanismo regulador da expressão génica.

Já em 2006, uma equipa de investigadores de que fazia parte Cecília Arraiano publicou na revista 'Nature' um trabalho que desvendava a estrutura tridimensional da ribonuclease II, o que permitiu entender melhor o seu funcionamento.

Na sua óptica, "muitos processos biológicos não podem ser compreendidos sem se conhecer detalhadamente o metabolismo do ARN". Segundo a cientista, "a contínua degradação e síntese de ARN possibilita a rápida produção de novas proteínas e permite que os organismos se adaptem ao seu ambiente", sendo que "os níveis do ARN podem regular a síntese de proteína e o crescimento celular".

"Se pudermos estabilizar em cada célula o número de moléculas de ARN que codificam uma proteína de interesse, então a produção pode ser alterada para uma vasta gama de aplicações de importância biomédica e farmacêutica", afirma.

"Em Portugal têm sido muito poucos os que me têm apoiado"