“Desta vez, foi ainda pior”: em Alcântara e na 24 de julho mediram-se as marcas da água e compararam-se estragos para chegar a uma conclusão
Nunca choveu tanto em 24 horas em Lisboa e as consequências das bategadas foram combatidas por gente comum com a ajuda de polícias e de bombeiros. Um desespero mergulhado na impotência
A rua Fradesso da Silveira, em Alcântara, está irreconhecível: onde havia alcatrão há um grande lamaçal. É aqui que se encontram Marisa Conceição e Catarina Napoleão, desde madrugada a limpar com baldes e vassouras os litros de água que lhes entraram pela porta dentro. As duas mulheres, uma moradora a outra comerciante, elogiam o facto de esta semana as autoridades terem cortado esta via ao trânsito, mas de resto tecem duras críticas à autarquia.
“Nos anos 90, construíram uma conduta por baixo da estrada que seria usada para escoar a água das chuvas. Mas era época de eleições e a obra ficou inacabada.” Resultado? Em todas as chuvadas mais fortes, a zona fica alagada. Desta vez, foi ainda pior do que na última quarta-feira: a marca da água nas paredes atinge o metro de altura, quase o dobro da semana passada.
Marisa Conceição queixa-se que nem conseguiu sair de casa para ir trabalhar já que logo pelas três da manhã o hall do prédio ficou alagado quase até à cintura. “Fiquei aqui refém das chuvas. Tive de ir buscar o balde para tentar tirar esta água toda.” Às 10 da manhã tinha conseguido retirar uma pequena parte da água, mas vai ter de passar pelo menos o resto do dia nesta tarefa.
Na porta ao lado, na sua loja de comida, Catarina Napoleão diz que foi um polícia da PSP, e não os bombeiros, que ajudou a desentupir as grelhas do passeio para fazer escoar a água.
A 24 de julho
Garagens inundadas, lojas alagadas, tampas de esgoto e grelhas de escoamento soltas.
O cenário caótico na Avenida 24 de julho repete-se menos de uma semana depois. Desta vez, nem os alertas da Proteção Civil evitaram danos materiais “elevados mas ainda por contabilizar”, segundo os comerciantes das lojas afetadas.
Nas ruas, vários pesados dos bombeiros tentam escoar as centenas de litros se água que se foi acumulando com as chuvadas das últimas horas. “Tem sido uma madrugada e manhã terrível. Chamam-nos de todos os lados da cidade”, desabafa um chefe dos sapadores de Lisboa enquanto inspeciona o trabalho dos colegas.
Uma das garagens é do Ministério da Educação. Um alto funcionário que acompanha também o trabalho dos sapadores garante que já não se encontrava qualquer carro na garagem. E que os danos serão apenas no edifício. Na rua, são vários os comerciantes que se ajudam entre si para tentar minorizar os danos materiais. “Temos de ser solidários uns para os outros. Já é a terceira cheia neste mês. Nem quero pensar no dinheiro que vamos pedir com isto”, conta uma das comerciantes.
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes