Sociedade

Moedas cede S. Jorge à embaixada para celebrar criação do Estado de Israel, trabalhadores da EGEAC entregam abaixo-assinado

Moedas cede S. Jorge à embaixada para celebrar criação do Estado de Israel, trabalhadores da EGEAC entregam abaixo-assinado
ANTÓNIO PEDRO SANTOS/Lusa

Evento decorre esta quarta-feira no cinema lisboeta sob protestos e fortes medidas de segurança. Autarca deve marcar presença apesar das críticas que recebeu

Tiago Palma

Jornalista

Foi no dia 14 que se assinalou o aniversário da criação do Estado de Israel, em 1948. No entanto, em Lisboa, o 76º aniversário será comemorado apenas esta quarta-feira, 22 de maio (pelas 20h00), no Cinema S. Jorge, em Lisboa, num evento privado organizado pela embaixada israelita em Portugal.

O evento tem lugar há vários anos em Portugal, e reúne por hábito personalidades influentes do meio político, empresarial e diplomático, mas este ano terá lugar em plena operação militar israelita em Gaza e poucos dias após o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ver recair sobre ele suspeitas de crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

Logo que o evento foi tornado público, somaram-se as críticas, quer sobre Carlos Moedas, autarca de Lisboa (que ao que o Expresso apurou estará presente amanhã no Cinema S. Jorge a convite da embaixada), quer sobre a EGEAC, empresa municipal responsável pela gestão daquele cinema, bem como de outros espaços públicos e culturais em Lisboa.

A cedência deste cinema para um evento privado (como acontece, aliás, noutro tipo de eventos) recebeu autorização da segunda entidade.

A vereadora municipal do Bloco de Esquerda, Beatriz Gomes Dias, entregou, logo no domingo, um requerimento dirigido, contudo, ao autarca, pedindo que Carlos Moedas retire o apoio da autarquia às celebrações do aniversário do Estado de Israel.

A vereadora escreve que tal apoio é “impossível de aceitar” perante o que vê como “um genocídio” que Israel “está a perpetrar” em Gaza. Beatriz Gomes Dias espera, “pelo contrário”, que Carlos Moedas venha “demonstrar a sua solidariedade para com o povo palestiniano e condene o massacre”.

Ainda do lado da causa palestiniana, o Comité de Solidariedade com a Palestina reagiu lembrando que este tipo de eventos não são mais do que uma “campanha de charme e de propaganda que visa branquear os crimes sionistas”.

Estranhando que um espaço de cultura da Câmara de Lisboa “se associe a um evento desta natureza”, o grupo acusa a autarquia e a EGEAC de serem “cúmplices destes crimes, acolhendo nos seus espaços a celebração dos mesmos, pelo Estado que os comete com total impunidade”.

O Expresso teve também acesso a um abaixo-assinado que reúne mais de uma centena de assinaturas de trabalhadores da EGEAC, entretanto entregue à empresa, e no qual se posicionam contra o evento, declarando “profunda preocupação” pela situação na Palestina e exigindo da EGEAC um “posicionamento responsável” perante a crise humanitária em Gaza.

“Enquanto a empresa apoia e se envolve em diversas causas sociais e políticas, a sua falta de ação em relação à Palestina é notória e preocupante. Acreditamos firmemente que o silêncio não é uma opção diante de uma injustiça tão flagrante e devastadora”, pode ainda ler-se.

Assim, os trabalhadores, condenando já “qualquer forma de antissemitismo que possa surgir em decorrência” do evento, apelam àquele Conselho de Administração que publicamente “se manifeste em solidariedade com o povo palestiniano, exigindo o cessar-fogo, o fim imediato do genocídio e o respeito pelos direitos humanos”.

Antes mesmo deste abaixo-assinado ser entregue, a EGEAC veio explicar, num comunicado, que o Cinema S. Jorge "tem acolhido organizações políticas, embaixadas, sindicatos, associações culturais, ONG's e agentes da sociedade civil nos mais diversos contextos”, enquadrando-se o aniversário do Estado de Israel na atividade de “cedência e aluguer de espaços para iniciativas particulares” — não concretizando se foi um aluguer ou se cederam o cinema à embaixada israelita.

A EGEAC entende o evento como “parte da sua missão de serviço público”, explicando que “a promoção da diversidade, do pluralismo e da liberdade são, de resto, transversais no trabalho desenvolvido” pela empresa municipal.

O evento decorrerá à porta fechada, sob fortes medidas de segurança no exterior e interior, sendo de aguardar manifestações organizadas de grupos pró-Palestina.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: tpalma@expresso.impresa.pt

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