Sociedade

Anorexia: “Comia cada vez menos, cada dia era pior do que o anterior, estava a morrer”. Internamentos disparam, faltam camas para tratamento

1 abril 2023 8:14

Helena Bento

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Jornalista

Tiago Miranda

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Fotojornalista

“Joana” alimenta-se melhor desde que está na residência e está mais estável

Hospitalizações por anorexia dispararam nos últimos cinco anos. Faltam camas para o tratamento e as agendas das consultas estão cheias. Especialistas apontam uma maior “predisposição social” para a doença

1 abril 2023 8:14

Helena Bento

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Tiago Miranda

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A chave roda na fechadura, o trinco recua e a porta abre-se. A sala tem pouca mobília: um sofá à entrada, uma televisão e uma mesa comprida ao centro. Ao canto, há um corredor que dá acesso a uma pequena cozinha, onde chamam a atenção vários papéis fixados na parede com planos alimentares escritos à mão, e a três quartos, cada um com três camas. Na residência não há espelhos para ver o corpo, apenas o rosto.

Num dos quartos, sentada na cama de costas muito direitas e vestida com uma camisola polar, está Joana (nome fictício). É a sétima vez que é internada devido a uma anorexia. O primeiro internamento aconteceu aos 16 anos e o mais recente agora, aos 31, depois de uma “recaída abismal”. “Comia cada vez menos. Cada dia era pior do que o anterior. Estava a morrer.” Joana falou com a psiquiatra que a acompanhava e pediu-lhe para ser internada. Em setembro do ano passado foi acolhida na Residência Elysio de Moura, no Polo de Valongo do Hospital de S. João (Porto), destinada a doentes com distúrbios alimentares. A anorexia é o mais frequente: mais de 90% dos residentes têm a doença.