Última homenagem a Rui Nabeiro: Campo Maior uniu-se numa "avalanche de amor"
NUNO BOTELHO
Campo Maior saiu à rua para prestar uma última homenagem a Rui Nabeiro, natural da vila alentejana e fundador do império Delta, fundamental para a economia da região. Largas centenas de pessoas seguiram o cortejo fúnebre que levou o corpo de Nabeiro para o cemitério de Campo Maior, sempre aplaudindo efusivamente o “avô que é nosso”
A missa de corpo presente de Rui Nabeiro, que faleceu no passado domingo, começou esta terça-feira às 12h00 na Igreja Matriz de Campo Maior, a vila alentejana onde nasceu e criou o império Delta.
Largas centenas de pessoas fizeram questão de partilhar um último adeus ao empresário, acumulando-se junto à igreja para assistir à missa através de um ecrã gigante colocado perto da entrada. Seguiram depois por vários metros o cortejo fúnebre que levou o corpo de Nabeiro até ao cemitério de Campo Maior, local onde quis ficar após a sua morte.
A cerimónia contou com a presença da família mais próxima do Comendador Rui Nabeiro, incluindo os seus quatros netos e dois filhos, mas também das três mais altas figuras do Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, Augusto Santos Silva, presidente da Assembleia da República e António Costa, primeiro-ministro.
À entrada da Igreja, Augusto Santos Silva lamentou a “grande perda” para Portugal e destacou a “atividade cívica” de Nabeiro, que, na perspetiva do presidente da Assembleia da República, ilustrava a ideia de que a “economia não é um fim em si”, mas uma “atividade que contribui para um fim maior, que é o bem-estar de todos”.
António Costa sublinhou a vertente humana do Comendador, salientando que o fundador da Delta “não era só um empresário”, mas também um “homem extraordinário” com um enorme carinho pela sua terra e pelos seus clientes.
NUNO BOTELHO
Lá dentro, o primeiro-ministro juntou-se às dezenas de pessoas que preencheram por completo a Igreja Matriz para assistir à cerimónia, que durou cerca de três horas. Na parte final, discursaram três dos quatro netos de Nabeiro e uma colaboradora de longa data na Delta.
O primeiro neto a falar foi Ivan, que repetiu várias vezes a ideia principal do seu discurso: "o meu avô não era meu, mas nosso”, frase com que terminou a sua intervenção e que lhe valeu fortes aplausos da multidão em redor da igreja.
Segui-se Rita Nabeiro, diretora geral da Adega Mayor, empresa que representa a Delta no ramo vinícola. Começou por agradecer a “avalanche de amor” que a família tem recebido de todos os setores da sociedade, e apelidou o avô de um homem “íntegro, justo e bom”. Para Rita, o Comendador era ainda “um porto seguro, aquele que aponta o caminho para a luz e alimenta a esperança, com o mundo inteiro no pensamento e os pés sempre cravados na terra, a sua: Campo Maior”.
O último discurso coube a Rui Miguel Nabeiro, que herdou o cargo de presidente executivo da Delta em 2021. Frisou a ética de trabalho do seu avô, para quem trabalhar era apenas “viver”, e o seu coração, sempre “aberto para todos”.
“Tive o privilégio de trabalhar a teu lado 20 anos”, continuou Rui Miguel Nabeiro. “Mas podes estar seguro que aprendemos a lição, deixaste-nos com os valores certos, com a ambição certa e sobretudo com as ganas de vencer que tu tinhas. Quando precisarmos de força vamos sempre fazer como fazias, avô: cerramos os dentes, fechamos os punhos e dizemos ‘para a frente, para a frente’".
Após a cerimónia religiosa, o caixão foi descido até ao largo daa igreja e colocado no veículo que o levaria até ao cemitério de Campo Maior. Antes de iniciar o caminho, repousou por cinco minutos, com a família por perto, intervalo de tempo durante o qual todos os presentes aplaudiram ininterruptamente. O mesmo gesto repetiu-se durante o percurso, sempre que o cortejo passava pelos vários grupos de pessoas que se espalharam pelas estreitas ruas da vila alentejana para prestarem uma última homenagem.
NUNO BOTELHO
A cerimónia contou também com duas atuações musicais, uma da fadista Carminho, a outra a cargo do coro da Fundação Calouste Gulbenkian. Interpretaram duas músicas consideradas muito queridas a Rui Nabeiro: “Estrela”, de Carminho, e “Quero é viver”, de Sara Correia.
Carminho, acompanhada pela sua guitarra, cantou as palavras que todos os presentes não evitaram associar ao Comendador: "Tu és a estrela que guia o meu coração/Tu és a estrela que iluminou meu chão/ És o sinal de que eu conduzo o destino/Tu és a estrela e eu sou o peregrino".
Texto de José Gonçalves Neves, editado por João Cândido da Silva
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